LXX – I – III EL

Septuagésimo Dia do Primeiro Ano da Terceira Era Lula

Dizem que a Justiça tarda mas não falha. Pode vir a ser verdade no caso Collor.

Fui um dos milhões de brasileiros que teve a vida prejudicada (para não usar um palavão que seria mais adequado) pela inconsequente ação de uma pessoa – e seus asseclas no governo – que, achando-se toda poderosa ao assumir a presidência do país, entendeu que (ok, não tenho alternativa a não ser usar o palavrão) foder com todo mundo era a única saída.

Fernando Collor de Melo sempre foi um picareta. Desde os tempos em que era governador de Alagoas. Se algum dia alguém se dispuser a investigar obras no governo dele, verá a enorme quantidade de favorecimentos e os respectivos “agradinhos” recebidos.

Era uma época – década de 80 – em que as empresas de engenharia deitavam e rolavam nos governos estaduais e no federal. Para os inocentes que pensam que tudo começou na Vaza Jato, sinto lembrar que a apropriação do estado pelas empreiterias é coisa antiga. Remonta ao período mais conhecido, atualmente, como ditadura civil-militar.

À época, trabalhava em uma empreiteira, useira e vezeira nas falcatruas. Era fácil. Governos não tinham controles internos, tudo era superfaturado com o obejtivo de, dentre outros, agraciar governos com “mimos”.

Collor, o caçador de marajás (na verdade, caçador dos pequenos marajás, pois ele era o maior de todos e não queria concorrência) – foi eleito presidente da República. Naquele tempo já dizia que ele não prestava. Mas quem era eu contra a Globo?

Em 6 de março de 1990, nasce minha primeira filha. Por uma extrema imperícia (barbeiragem mesmo) da médica, ela teve que ficar 15 dias na UTI. E a mãe sob cuidados especiais, sem poder ver a filha. Confusões mil, troca de hospital, enfim, um verdadeiro “parto”, no uso hiperbólico da palavra.

Não bastasse isso, dia 15 de março o crápula assume e decreta o confisco.

A filha na UTI de um hospital e a mãe internada em outro. E eu, repentinamente, sem o dinheiro guardado para pagar por tudo.

Desgraça pouca é bobagem, diz o ditado, né?

Naquele ano, a empresa que eu havia criado no ano anterior ia de vento em popa. Alguns contratos já firmados e promissores seis novos contratos que seriam assinados ao longo do ano. O salto que todo empreendedor deseja.

Já dá pra imaginar o resultado. As seis empresas, também sem condições para novos investimentos, gentilmente declinaram dos negócios comigo. Mal e porcamente, como se diz, consegui sobreviver com o que ainda tinha. E isso pela boa relação que mantinha com as empresas que, entendendo a situação, mantiveram os contratos.

Fudido (desculpem novamente). Isso foi Collor na minha vida. E na vida de milhões de brasileiros. Muitos com situações até piores que a minha. Não demorou muito para fechar. E, somente graças a amigos, voltei a trabalhar empregado.

Não me perguntem o que sempre desejei para essa criatura. A resposta não será nada cristã. Aliás, religião alguma no mundo me defenderia se soubesse o que eu desejava.

Mas pau que nasce torto, morre torto, outro ditado. A breve esperança de que ele fosse condenado, quando do impeachment, se transformou em indignação quando o STF o absolveu. O pau torto seguiu sua vida de falcatruas.

Eis que, passados 33 anos, parece que o ditado se fez verdade. Finalmente, um dos maiores bandidos (sim, sei que existem outros aos montes ainda soltos por aí) que esse país já teve em sua história foi condenado. E, pasme-se, pedem 33 anos de cadeia. Parece até que será para pagar, um por ano, os 33 em que ficou solto.

Devo parar por aqui, pois meus desejos nada cristãos voltaram à tona. Vou tratar de exercitar meu espírito e me contentar com que ele passe o resto da vida mofando numa cadeia. Não sem antes desejar que façam com ele, em ato real, o que ele fez com milhões de brasileiros.

Sou grato à vida por ter sobrevivido até agora e poder ver que a Justiça tardou mas não falhou.

https://www.escosteguy.net/wp-content/uploads/2023/05/collor.jpghttps://www.escosteguy.net/wp-content/uploads/2023/05/collor-150x150.jpgLuiz Afonso Alencastre EscosteguyO ChatoBandido,Collor,Falcatrua,Prisão,STFLXX - I - III EL Septuagésimo Dia do Primeiro Ano da Terceira Era Lula Dizem que a Justiça tarda mas não falha. Pode vir a ser verdade no caso Collor. Fui um dos milhões de brasileiros que teve a vida prejudicada (para não usar um palavão que seria mais adequado) pela...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!