Posts anteriores:

Projeto de Cidade vs Plano Diretor vs Programa de Governo

A China e Paris verdes e a Porto Alegre devastada

8 de janeiro Porto Alegre se supera

Por uma Câmara de Vereadores digna

Porto Alegre anacrônica

A gentrificação do pensar: a quem cabe pensar a cidade?

Afinal, o que é “pensar a cidade”?

Livros e mais livros, teses e mais teses. Muito se escreve sobre a dignidade da pessoa humana.

Dignidade humana é o simples existir, ser. Não é ter vida, pois a dignidade humana não acaba com a morte.

A questão, aqui, não é fazer mais um texto sobre o que é a dignidade humana. Tem gente muito mais capacitada para isso. A questão é: se pensar a cidade, como coloquei no post anterior, é pensar, antes e acima de tudo, em como a cidade é o local, por excelência, da plenitude da dignidade humana, como realizar essa condição?
Entendo que quatro são os pilares necessários para uma existência digna (dignidade humana): alimentação, meio ambiente, educação e trabalho. No fundo, são pilares entrelaçados e envolvidos pelo mais importante deles: a alimentação.

Sem uma alimentação acessível, abundante e saudável, não é possível ter saúde; sem saúde e sem um meio ambiente saudável (inclui moradia, água e saneamento) não é possível desenvolver-se (educação); e sem educação não se tem trabalho ou, tendo, são precários e insuficientes para a existência.

A fome elimina a dignidade humana. A falta de alimentação elimina o desenvolvimento físico (saúde precária ou mesmo inexistente) e intelectual (cria limitações de aprendizagem). Essa condição elimina a possibilidade de trabalhos dignos (salários dignos), que permitam obter uma alimentação suficente e saudável e, também, joga as pessoas para as periferias e vilas em condições, no mais das vezes, sub-humanas.

O ciclo vicioso está instalado.

Pensar a cidade, como local da plenitude da dignidade humana, começa por pensar em uma cidade sem fome. Os poderes públicos deveriam ter como foco primário o desenvolvimento de ações que tornassem a alimentação acessível e de qualidade a todos os cidadãos e só deveriam ser eleitos (prefeito e vereadores) aqueles realmente honestos e comprometidos na realização das ações. Infelizmente não é o que vemos.

Pessoas dignamente alimentadas são saudáveis, o que diminui o impacto sobre o sistema de saúde da cidade. Pessoas com saúde se desenvolvem integralmente e se tornam capazes (educação) de realizar trabalhos dignos.

Esse é o primeiro ponto de como uma cidade deve ser para ser o local do exercício pleno da dignidade humana: uma cidade cuja prioridade é alimentar seus cidadãos. Não existe falta de alimentos, o que existe é excesso de interesses pessoais em aumentar – de forma até desumana – a própria riqueza. Em aumentar, a também desumana, desigualdade social, onde a imensa maioria ou não come ou come de forma insuficiente. Ao poder público não cabe incentivar essa situação, como vem ocorrendo em Porto Alegre.

O que Porto Alegre faz pelo OBJETIVO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 2 (ONU)?

O ODS 2 (aqui) diz respeito à fome zero e agricultura sustentável. A ideia é que todas as pessoas passem a ter acesso a alimentos “seguros, nutritivos e suficientes” em qualquer época e em qualquer país:

  • 2.1. Até 2030, acabar com a fome e garantir o acesso de todas as pessoas, em particular os pobres e pessoas em situações vulneráveis, incluindo crianças, a alimentos seguros, nutritivos e suficientes durante todo o ano;
  • 2.2. Até 2030, acabar com todas as formas de desnutrição, incluindo atingir, até 2025, as metas acordadas internacionalmente sobre nanismo e caquexia em crianças menores de cinco anos de idade, e atender às necessidades nutricionais dos adolescentes, mulheres grávidas e lactantes e pessoas idosas;
  • 2.3. Até 2030, dobrar a produtividade agrícola e a renda dos pequenos produtores de alimentos, particularmente das mulheres, povos indígenas, agricultores familiares, pastores e pescadores, inclusive por meio de acesso seguro e igual à terra, outros recursos produtivos e insumos, conhecimento, serviços financeiros, mercados e oportunidades de agregação de valor e de emprego não agrícola;
  • 2.4. Até 2030, garantir sistemas sustentáveis de produção de alimentos e implementar práticas agrícolas resilientes, que aumentem a produtividade e a produção, que ajudem a manter os ecossistemas, que fortaleçam a capacidade de adaptação às mudanças climáticas, às condições meteorológicas extremas, secas, inundações e outros desastres, e que melhorem progressivamente a qualidade da terra e do solo;
  • 2.5. Até 2020, manter a diversidade genética de sementes, plantas cultivadas, animais de criação e domesticados e suas respectivas espécies selvagens, inclusive por meio de bancos de sementes e plantas diversificados e bem geridos em nível nacional, regional e internacional, além de garantir o acesso e a repartição justa e equitativa dos benefícios decorrentes da utilização dos recursos genéticos e conhecimentos tradicionais associados, como acordado internacionalmente;

Sim, uma cidade pode, em seu território, fazer muito para erradicar a fome. Bastaria ter esse compromisso político com a dignidade humana. No entanto, os últimos governos estão muito mais preocupados em vender a cidade, enquanto temos mais de 70 mil famílias em situação de extrema pobreza (aqui). Foi preciso a iniciativa de uma vereadora (Laura Sito/PT), em 2022, propondo uma lei (Lei 13.015/2022) que criou o Programa Municipal de Aquisição de Alimentos (PAA) de Porto Alegre e com isso tentar minimizar a situação das famílias que passam fome.

Pensar a cidade é pensar em erradicar a fome e a vulnerabilidade alimentar da sua população. Isso é pensar a cidade como exercício de dignidade humana.

Há outros pontos. Seguimos…

https://www.escosteguy.net/wp-content/uploads/2023/09/fome-1024x576.jpghttps://www.escosteguy.net/wp-content/uploads/2023/09/fome-150x150.jpgLuiz Afonso Alencastre EscosteguyO ChatoDignidade Humana,fome,Pensar a Cidade,Porto AlegrePosts anteriores: Projeto de Cidade vs Plano Diretor vs Programa de Governo A China e Paris verdes e a Porto Alegre devastada 8 de janeiro Porto Alegre se supera Por uma Câmara de Vereadores digna Porto Alegre anacrônica A gentrificação do pensar: a quem cabe pensar a cidade? Afinal, o que é “pensar a cidade”? Livros e...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!