Carris, DMAE, Procempa e, disfarçadas de concessão, Redenção, Marinha, Lami. Além das já concedidas orlas do Guaíba e o Harmonia. Sem esquecer, claro, dos absurdos tótens de propaganda que estão sendo esparramados pelas calçadas em troca de “paradas modernas” e da terceirização dos postos de saúde e coleta do lixo. Sem falar na recente declaração de que “moradia o mercado resolve”.

O que vai fazer um prefeito que terceiriza/vende/concede as suas atribuições? Sobra muito pouco.

Melhor então, terceirizar o cargo. É muito mais econômico. Não gastamos dinheiro público com as eleições e, de quebra, evitamos que conglomerados aportem dinheiro – mesmo que pela via pessoal – para a campanha daquele que, com certeza, vai aderir à ideologia privatista.

Uma empresa contratada para gerir a prefeitura – licitação, claro – deverá cumprir o plano de metas estabelecido por um conselho de cidadaõs escolhidos pela população. No contrato haveria uma cláusula prevendo o que hoje não temos (o famoso e não praticado por aqui recall): se não cumprir já no primeiro ano as metas previstas, a empresa deverá pagar uma multa equivalente a 25% do valor do contrato (um quarto por ano de contrato de quatro anos). Não cumpriu uma que seja, pagou. Afinal, negócios são negócios. Não cumpriu um número determinado de metas? Rescisão contratual por justa causa. E escolhemos outra.

O importante, aqui, não é especificar esse processo, mas sim, o fato de que se vamos ter todos os serviços privatizados/concedidos/vendidos, não precisamos de um prefeito.

Se é tão difícil gerir uma cidade, a ponto de precisar vender/conceder/terceirizar praticamente tudo, qual a razão de se candidatar para o cargo? Pior, qual a razão de querer se reeleger?

O prefeito não está preocupado com a cidade, com a população. Haja vista declaração feita em entrevista ao Jornal do Comércio, quando ainda candidato à prefeitura. Melo deixa claro o tipo de pensamento que o move:

“O certo é que vou usar a busca de recursos privados para captar água. Afinal, o cidadão não está preocupado se a água da torneira veio com dinheiro público, privado ou misto, porque o que ele quer é água.”(aqui)

Podemos estender o pensamento para os parques: o que o povo quer é segurança e banheiros limpos e funcionais, não importa se isso vem do dinheiro público ou do privado. E ao transporte público, a Carris. E à Procempa, que pouca gente sabe o que faz e a importância que tem para a cidade (rede de fibra ótica que interliga quase toda Porto Alegre; o sistema de videomonitoramento com mais de 1600 câmaras; wi-fi gratuito em diversos pontos da cidade e todos os sistemas administrativos).

Esse tipo de pensamento, além de primário quase beirando o medíocre, é um pensamento arrogante, pois reduz o povo a um mero “recebedor de serviços”, sem capacidade para elaborar o simples pensamento de que sim, quero água, mas quero água a preço justo e não a preço do lucro privado, pois pago imposto para que seja assim.

Alguém que está pouco se importando em compreender a equação necessidade de serviço versus capacidade de pagar pelo serviço, pouco se importa, também, com o histórico de fracassos espalhados pelos países que se aventuraram a privatizar, por exemplo, a água.

Os mais pobres – 70% da população (lembrando que Porto Alegre tem 1/4 da população – IBGE – economicamente ativa ganhando até 1/2 salário mínimo – ficam ou sem água ou com serviços precarizados, pois não podem pagar o preço cobrado pelas empresas. Isso tem sido assim no mundo inteiro, mas Sebastião Melo e sua tropa neoliberal privatista insistem no modelo.

Na mesma entrevista ao JC, Melo afirma: “o mundo mudou, e eu também“. Quando era canditado em 2016, afirmava, ao JC (aqui):

JC – No primeiro turno das eleições, se falou muito em privatizar a Companhia de Processamento de Dados de Porto Alegre (Procempa) e, principalmente, a Carris, que é deficitária. O que propõe para esses órgãos?

Melo – Não está na minha agenda privatizar o Dmae (Departamento de Água e Esgotos), a EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação), a Procempa e muito menos a Carris, que é reconhecida como a melhor empresa de transporte público do Brasil. Aliás, se for prefeito, pretendo nomear para as empresas públicas um dirigente de uma lista tríplice indicada pelos servidores. Mas vou ter uma conversa muito firme com os funcionários públicos. Se for para escolher um diretor corporativista, não. Tem que ser um diretor que defenda o serviço público. Isso vale para empresas públicas e autarquias, porque acho que isso traz um maior comprometimento dos servidores com a boa gestão.”

Diz um ditado português: “A um homem sem palavra, não lhe fies uma sede d’água”.

Não precismos de prefeito. Não ao menos esse, que descaradamente governa para poucos e é capaz de mudar de pensamento em tão pouco tempo. E com uma explicação estapafúrdia: “o mundo mudou”.

Peivatizemos, pois, a prefeitura!

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