O exercício da cidadania é o exercício de fazer escolhas.

Desde que o conceito de cidadania ingressou na cultura da humanidade, o mundo se divide entre ser possível fazer escolhas e ser proibido fazer escolhas.

Teorias muitas, ao logo da história, tentam fazer valer que liberdade é sinônimo de poder fazer escolhas e, com isso, defendem sistemas políticos (governos, sistemas judiciais, modos de produção de bens e serviços e consequente repartição da riqueza produzida) que acabam, na prática, opondo o individualismo – liberdade – em relação ao comunitário – igualdade, com primazia ao primeiro.

Quando falamos em emergência climática, esse sistema político baseado no individualismo logo trata de se esquivar, ora culpando a natureza, ora culpando comunidades e movimentos socias, sendo que a esses últimos imputam rótulos como “ambientalistas” ou, pior, “ecoterroristas”, tão somente por defenderem um sistema político baseado na igualdade.

No caso das comunidades, fala-se em racismo ambiental, mas o que acontece vai além disso. Trata-se de segregação social, pois camadas sociais até então imunes ao caos começam a ser atingidas e nem mesmo a política de favorecimento a uma minoria (classe média), em detrimento das comunidades pobres, está funcionando.

O caos tomou conta – no último temporal em Porto Alegre – de áreas até então “protegidas”. Bairros tipicamente de classe média / média alta, como Bom Fim, Cidade Baixa, Menino Deus, Petrópolis, Três Figueiras, Chácara das Pedras, Rio Branco, Santana, Farroupilha e muitos outros.

O sistema logo tratou de colocar a culpa na natureza: temporais “fora do comum” e as árvores.

Ato contínuo os “ambientalistas” e as comunidades começam a campanha culpando os executivos estadual e municipal e iniciam campanha contra uma possível reeleição do atual mandatário municipal.

Há, aqui, um grande erro: pensar que cidadania é o exercício do direito de votar e ser votado.

Isso não passa de um “conto de fadas” inculcado na mente das pessoas pelo sistema que defende a primazia da liberdade. E isso vem desde o golpe que instaurou a República no Brasil. E de golpe em golpe, desde então, o sistema faz crer, aos cidadãos, que tendo garantido o direito de voto, devem se sentir felizes.

E o sistema é tão perfeito na lavagem de corações e mentes, que todos pensamos que eleger executivos é o que mais importa. Por definição, executivos não representam o povo. A execução de políticas públicas – mesmo que definidas pelo executivo – precisam, necessariamente, da aprovação dos legisladores, seja na aprovação da lei orçamentária (que define como o executivo vai usar os recursos arrecadados), seja na aprovação de leis que mudam, por exemplo, o Plano Diretor.

Cidadania é mais que “liberdade” de votar, mas memos que pensemos apenas nesse aspecto, cidadania é entender que a eleição mais importante é para o legislativo e não para o executivo.

Liberdade de fazer escolhas implica acesso pleno à educação, à informação e ao conhecimento, bens escassos atualmente.

Cidadania, mais que o exercício de fazer escolhas é estar preparado para fazer escolhas. E isso não interessa ao sistema que prioriza o conceito de cidadania como apenas direito ao voto.

Sim, é importante brigar pela árvore que foi derrubada. Mas se “ambientalistas”, “ecoterroristas” e quetais resumirem a luta a isso ou a ser contra prefeito ou governador – como parece ser o mote atual, tornando as próximas eleições apenas um fato executivo, a cidadania seguirá capenga e “indo para o brejo”.

Cidadania é mais que eleições, mas isso é outra história…

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