Importante artigo publicado pelo Brasil de Fato RS (aqui) – de autoria de Heleniza Ávila Campos, Paulo Roberto Rodrigues Soares e Nicole Leal de Almeida, todos pesquisadores do Observatório das Metrópolis – aponta para um programa há muito desenvolvido em Porto Alegre: a gentrificação.

Em certo momento, no texto, referem: “O inquietante silêncio da PMPA sobre a dualidade – já tão antiga – entre ricos e pobres em Porto Alegre, é mais do que uma das expressões do projeto neoliberal de valorização dos setores imobiliários: é uma clara exclusão das pessoas que moram sem condições de habitabilidade no espaço onde conseguem se estabelecer. A expansão do mercado imobiliário não acontece sem estímulo do Estado, que vincula-se mais aos interesses das construtoras e pautado pela lógica de mercado, do que à realidade objetiva e às reais demandas do município.

É histórica a atuação do poder público nesse sentido, desde o início do século passado, quando tivemos as primeiras ações de “higienização” do que hoje conhecemos como Centro Histórico.

Existem, a meu ver, três formas de se “pensar a cidade”. As três, no entanto, partem de uma questão básica: para quem pensamos a cidade?

A primeira, pensa a cidade como local de vivência; a segunda, como local de uso e, a terceira, como local de, digamos, vantagens.

A imensa maioria dos habitantes de uma cidade nasce, vive e morre na cidade. Distribui esse tempo de vida entre as vivências e as necessidades de uso. Vivências, claro, incluem usos, mas vão além.

Para o uso, as pessoas precisam de mobilidade, de segurança, de proximidade aos equipamentos de saúde, educação e trabalho. Para a vivência, precisa de espaços de lazer: praças, parques, equipamentos de cultura, de gastronomia e, importante, de espaços de compartilhamento social.

Porto Alegre nasceu e se desenvolveu como local de uso. Ocupação de território, porto e entreposto bem localizado que era, tornou-se a capital. Por interesses de uso da Coroa. Não foi por suas belezas naturais: o Guaíba, os morros, os riachos e suas várzeas. D. Pedro I não preservou o terreno da futura Redenção porque pensava que um dia seria local de vivência; preservou porque era local de uso.

Uma importante contribuição para esse estado de coisas é o modelo educacional que transforma as pessoas em meros usuários da cidade. Muito pouco se ensina, nas escolas, sobre a história, os locais, os monumentos, o patrimônio cultural.

Nada há que indique a origem dos equipamentos. Raríssimas são as placas indicativas de que um prédio, um local, são parte da história de Porto Alegre. As pessoas perdem o vínculo afetivo (vivência) com a cidade e crescem como meros transeuntes que precisam sobreviver.

Por isso torna-se fácil impor projetos de gentrificação: basta tirar o referencial de cidade. Basta fazer de Porto Alegre uma “moradia”. Aos mais abastados o que há de melhor; aos demais o que puderem conseguir.

E essa é a terceira forma de pensar a cidade: a expansão do mercado imobiliário. O pensar para quem quer tirar vantagens da cidade. E para isso precisa preparar os espaços centrais de vivência para serem um jardim particular a ser usufruido tão somente por quem pode. Vender praças, parques, calçadas, liberar adensamento, permitir comércio onde não poderia e tantas outras ações que estamos assistindo atualmente em Porto Alegre, como resultado do projeto privatista da atual administração.

Como já disse nosso ilustre fantoche da prefeitura, moradia o mercado resolve. E voltamos para a principal pergunta: resolve para quem?

Porto Alegre está sendo pensada para poucos. É preciso impedir a continuidade desse projeto. Antes que o muro se complete. E dessa vez não termos um portão para entrar e sair…

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