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Como bom brasileiro e mais ainda como gaúcho, tenho por hábito dizer que levo na brincadeira a “questão Argentina”. Brincamos com os hermanos (a própria ironia contida no uso dessa expressão já diz tudo) e os tornamos fiéis depositários de tudo quanto há de ruim na espécie humana e na América Latina em especial.

Tudo isso até que surja uma oportunidade como a que a copa nos oferece: a Argentina jogando a final da Copa das Copas, a Copa do Brasil, em pleno Maracanã. E nós apenas olhando do lado de fora!

O primeiro impulso, claro, é torcer contra, apesar de ser difícil torcer contra quem tem o Papa na torcida, já que Deus, que dizem ser brasileiro, sabendo de antemão a merda que ia dar com essa seleção nos abandonou já no jogo contra o México.

No confronto direto entre coisas boas e ruins acontecidas comigo em relação aos argentinos, as boas ganham de três a um.

A ruim é que fui muito mal tratado em diversas situações em uma visita que fiz a Buenos Aires. Não por ser turista, quem sabe, mas muito mais por ser brasileiro. Até hoje penso em desculpá-los, pois estavam em plena guerra das Malvinas e a situação não andava nada boa para eles, inclusive a econômica. A paridade em relação à nossa moeda era ridícula. Podíamos comprar os produtos mais caros para eles com algumas “merrecas” nossas.

É, talvez tivesse sido isso: um povo humilhado por uma guerra insana movida pelos generais e uma moeda absolutamente falida. Com certeza eles também têm essa “brincadeira” com relação aos irmãos do lado de cá.

As boas é que tive um orientador que era argentino e foi uma das pessoas mais importantes que passaram na minha formação, não apenas profissional, mas pessoal, de caráter. Devo a ele algo que pratico e repito até hoje: não estou onde estou por ser mais inteligente ou mais safado, apenas porque cheguei antes. Tenho apenas mais experiência. O conhecimento todos podem ter igual. Portanto, posso ensinar (e devo) tudo o que sei. E ele me ensinou tudo o que sabia de Astronomia.

O segundo gol deles é que parte da minha família, os Escosteguy, é de argentinos. Por mais que a cultura possa tê-los feito diferentes dos primos brasileiros, ainda guardam o sangue e a mesma origem minha. Descendemos todos, Escosteguy’s brasileiros e argentinos de um único homem e de uma única mulher, nascidos no País Basco. E somos, alguns vários, da mesma geração! Não poderia odiá-los pela simples pecha de serem “argentinos”. São pessoas com as quais tenho contato.

O terceiro gol aconteceu na recente visita que fiz à Pelotas, para participar do I Congresso Brasileiro de Cultura Basca. Lá estavam inúmeros argentinos, pois eles são mais “desenvolvidos” que nós nessa questão das origens e tradições bascas.

Havia também bascos “originais”.  E foram momentos onde foi possível observar que estávamos acima das perrengas do futebol. Coisa que, sabemos bem, é mais do interesse da mídia manter do que propriamente um verdade.

Mas vivemos e convivemos com essa “coisa” contra argentinos como se fosse verdade. A ponto de não haver dúvidas contra quem torceremos no domingo.  “É inimaginável ver argentinos ganhando uma copa em pleno Maracanã!”, dizemos das mais variadas formas.

Pois resolvi superar a “questão Argentina”. Nada contra a Alemanha e sua seleção, que são caso para estudo por quem, nesse país, ainda leva o futebol como deve ser levado: um jogo e não uma fábrica de commodities, que dá lucros para muita gente, menos para o futebol brasileiro.

Vou torcer pela Argentina e que eles sejam campeões aqui no Brasil.

Que vengan los hermanos! Que hagan lo que nosotros no hicimos! Afinal, visitar a taça em Buenos Aires é bem mais em conta do que em Berlim!

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyO ChatoComo bom brasileiro e mais ainda como gaúcho, tenho por hábito dizer que levo na brincadeira a 'questão Argentina'. Brincamos com os hermanos (a própria ironia contida no uso dessa expressão já diz tudo) e os tornamos fiéis depositários de tudo quanto há de ruim na espécie humana e...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!