Diria que foi, dos últimos 60 anos, o mais complexo e, por que não, o mais difícil em certos momentos.

O que tinha de ruim para acontecer aconteceu. Até o pé quebrei. E quiçá isso tenha sido o menos pior dos acontecimentos. Não chego ao extremo de dizer que toquei o fundo do poço, pois sabemos que uma das principais características dos poços é não terem fundo. Mas foi fundo o suficiente para desestabilizar a sólida torre da vida que pensei ter construído.

O ano culmina acontecimentos desencadeados em 2021. Acontecimentos alheios a minha vontade, protagonizados pelo que de pior em termos humanos já poderia ter pisado o chão desse minúsculo planeta. Sequer chamaria de humanos, tamanha a maldade que carregam em si.

Sou um acumulador, como dizem por aí. De objetos, coisas, tralhas, tudo aquilo que nós, doentes, dizemos: um dia terá uma utilidade. Ok, nada que se compare aos acumuladores de conhecidos programas de televisão.

Jamais, no entanto, acumulo sentimentos. Como bom geminiano e como aprendi na Física, cessada a causa, cessa o efeito. Em segundos esqueço. Tenho apenas uma crença: aqui se faz aqui se paga. A rede da vida é feita de nós e cada nó abre três caminhos para escolhermos. Não, voltar não é uma opção. E assim, a cada nó, vamos escolhendo os caminhos, de sorte que seria muito difícil, senão impossível, rastrear o que nos acontece hoje como efeito de algo que causamos no passado.

[Será que foi aquela vez, ainda adolescente, que tive duas namoradas ao mesmo tempo? E as duas se encontraram na minha casa (ainda bem que ao menos uma sabia da outra)? Se foi pelas minhas peripécias juvenis, uau, devo ter muito a pagar ainda…]

Viver é escolher caminhos sem saber aonde chegaremos e sabendo que jamais poderemos voltar ao nó antes da escolha. E a cada nó só temos um único norte: não devemos praticar maldades, pois a lei maior é aqui se faz aqui se paga. Viver uma vida com retidão não nos garante imunidade contra a maldade dos outros, mas praticar a maldade com certeza trará retorno.

Foi o ano do ponto de mutação. Muitas coisas boas também aconteceram. Tive mãos estendidas para segurar as minhas já vazias e quase sem forças e que permitiram que uma mudança quase radical tivesse início: jogar fora coisas e pessoas. Muitas pessoas, muitas. [ainda dói jogar certas coisas fora, mas descobrir que jogar pessoas fora é mais fácil ainda…]

Se há algo a guardar da convenção humana da troca de ano é isso: o tempo entre os dois últimos solstícios de verão foi o tempo do ponto de mutação. Termino o assim chamado ciclo solar com um único sentimento: gratidão pelas mãos que me seguraram na caída e pelas vozes do reconhecimento. E sequer milhares de segundos me farão esquecer.

Uma pessoa em especial, mas ela já sabe.

https://www.escosteguy.net/wp-content/uploads/2023/12/Maos-fundo-do-poco-1024x737.jpghttps://www.escosteguy.net/wp-content/uploads/2023/12/Maos-fundo-do-poco-150x150.jpgLuiz Afonso Alencastre EscosteguyO ChatoDiria que foi, dos últimos 60 anos, o mais complexo e, por que não, o mais difícil em certos momentos. O que tinha de ruim para acontecer aconteceu. Até o pé quebrei. E quiçá isso tenha sido o menos pior dos acontecimentos. Não chego ao extremo de dizer que toquei...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!