hipocrisia

Para começar, vamos tirar a mídia oligárquica do debate. Ela é parcial e sabemos bem qual lado defende: o seu. Não fornece argumentos para debate ou sequer analisa os fatos, apenas impõe a sua versão dos fatos. E dá a eles o caráter de verdades absolutas.

Vou usar um trecho do livro “Comunicação em Prosa Moderna” (20. ed., p. 302-3), do Othon M. Garcia, que será importante para a demonstração:

“Declarações, apreciações, julgamentos, pronunciamentos expressam opinião pessoal, indicam aprovação ou desaprovação. Mas sua validade deve ser demonstrada ou provada. Ora, só os fatos provam; sem eles, que constituem a essência dos argumentos convincentes, toda declaração é gratuita, porque infundada, e, por isso, facilmente contestável. O pronunciamento “Fulano é ladrão” vale tanto quanto a sua contestação: “Não, Fulano não é ladrão”. E nenhum dos dois convence. Limitando-se apenas a afirmar ou negar sem fundamentação, isto é, sem a prova dos fatos, que são, grosso modo, especificações em que se apoiam as generalizações traduzidas em pronunciamentos, os interlocutores acabam travando um “bate boca” estéril da mesma ordem daqueles a que seriam levados se argumentassem apenas com palavras de sentido intencional. Nenhum dos dois convence porque ambos expressam opinião pessoal, certamente não isenta de prevenções ou preconceitos. Respeitável ou não, essa opinião ou julgamento terá de ser posta em quarentena… até que seja provado o que se nega ou se afirma. Sua validade é muito relativa; num caso como esse, nem se pode invocar aquilo que se costuma chamar de “testemunho autorizado’, vale dizer, uma opinião abalizada, uma opinião de quem, pela reputação baseada no saber e na experiência, merecesse tal crédito, que a prova dos fatos se tornasse desnecessária ou supérflua. […]

Em suma, toda declaração (ou juízo) que expresse opinião pessoal ou pretenda estabelecer a verdade só terá validade se devidamente demonstrada, isto é, se apoiada ou fundamentada na evidência do fatos, quer dizer, se acompanhada de prova.” (grifos no original)

(claro que a mídia oligárquica e seus jornalistas não estudaram isso… Esse é apenas uma das razões pelas quais devemos desconsiderar, sumariamente, qualquer escrito ou fala vinda desses veículos.)

Vamos, pois, aos fatos.

Episódios como os ocorridos na Arena do Grêmio – os xingamentos e, no segundo jogo, as vaias – são fatos.

Atear fogo em um CTG porque ali haveria um casamento gay é um fato.

Xingar juiz de futebol de filho da puta, tão somente porque consideramos as putas os piores seres, é fato.

Ficar horrorizado quando vemos adolescentes e adultos com perfil de pobre andando pelos shoppings e super mercados é um fato.

Sempre associar negros  com bandidos é um fato. Se for à noite, mais ainda. É mais um fato.

Assassinar pessoas somente porque são gays, transsexuais ou travestis é fato.

Não há como negar: somos, sim, preconceituosos.

Esse é um fato que tentamos de todas as formas negar. A mais comum é a hipocrisia da não generalização.

Em todas essas – e outras tantas – situações, sempre encontramos uma forma de explicar, de forma a transformar esses fatos em exceções, em evitar que esses fatos sejam o que são: uma generalização que nos caracteriza. Ou seja, não generalizamos para que não estejamos incluídos dentre os preconceituosos.

A hipocrisia que nos governa: a hipocrisia da não generalização.

Acabar com o preconceito passa, necessariamente, pela aceitação de que ele existe em todos nós, sem exceção. É acabar com a hipocrisia, é lutar contra as “opiniões” e contra as “verdades da mídia”.

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyO ChatoPara começar, vamos tirar a mídia oligárquica do debate. Ela é parcial e sabemos bem qual lado defende: o seu. Não fornece argumentos para debate ou sequer analisa os fatos, apenas impõe a sua versão dos fatos. E dá a eles o caráter de verdades absolutas. Vou usar um trecho...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!