Há pouco mais de dois meses tomei a decisão de me afastar da “causa ambiental”. É comum, quando estamos por demais envolvidos com algo, perdermos a capacidade de enxergar o que está fora desse algo. Tendemos a supervalorizar os fenômenos. Daí para atingir o radicalismo é um passo. Tanto na defesa, quanto no ataque.

Um distanciamento é salutar para por as ideias em ordem.

Muito é dito, escrito e divulgado sobre as questões do meio ambiente. Por todas as ideologias, lados políticos e econômicos. E o que resulta? Quase que tão somente em um interminável bate boca. Técnicos de um lado contra técnicos de outro. Entendidos de um, contra entendidos do outro. Acusações das mais variadas espécies.

E Belo Monte segue firme. Em breve, depois de pronta, poucos serão os que estarão ao lado das comunidades prejudicadas, lá na terra deles. Muitos , com certeza, utilizarão a energia gerada por Belo Monte para alimentar seus computadores, de onde continuarão a bater boca, só que em algum novo assunto, um novo moinho.

Tentar convencer os atuais adultos a mudar é, como se diz aqui no RS, gastar pólvora em chimango. É ser um Dom Quixote ambiental. Fomos criados em um sistema de preços e todos têm seu preço. É uma questão de quem paga mais. E o conforto, o consumismo, o egoísmo e tantos outros ismos pagam bem. Muito bem, obrigado!

Depois de formado, é extremamente difícil mudar o modelo mental de um adulto. Creio que somente pessoas que sobreviveram a catástrofes sejam capazes de fazer a necessária mudança. Daí que a questão principal, a meu ver, não está sendo abordada, atacada, com a devida intensidade: desenvolver os futuros adultos com um novo modelo mental. Um modelo em que ismos não entre.

Não é luta pela conservação do meio ambiente que vai salvá-lo. Se as baleias desaparecerem, serão como os dinossauros, só em livros e filmes. E qual o problema? Nenhum, vivo muito bem sem os dinossauros.

O importante – e que deveria ser, a meu ver, o foco dos esforços de todos quantos queiram realmente ajudar a conservar o planeta, – é a educação das crianças. Nossa educação é, sob todos os aspectos, péssima. E falo da educação geral, não dessa tal de Educação Ambiental.

O modelo de educação que temos não será capaz de transformar crianças em adultos conscientes e críticos. Em adultos com um modelo mental diferente desse que está aí. Logo, continuarão a fazer as mesmas coisas que fazemos. Berço. Perdemos o berço. Perdemos o senso moral, o senso cívico, o senso do dever, o senso social. E continuamos a educar nossas crianças do mesmo jeito que fomos educados.

Pois bem, enquanto nos mantivermos incapazes de formular e aplicar uma nova educação, continuaremos a gastar pólvora em chimango. Conservação do meio ambiente é consequência, não deveria ser a causa da luta. A causa deve ser a educação.

E minha contribuição para o meio ambiente não será mais evitar sacolas plásticas, mas, sim, lutar por uma nova educação. Tenho certeza que assim o meio ambiente me agradecerá um dia.

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyFaça a sua partePara pensarHá pouco mais de dois meses tomei a decisão de me afastar da “causa ambiental”. É comum, quando estamos por demais envolvidos com algo, perdermos a capacidade de enxergar o que está fora desse algo. Tendemos a supervalorizar os fenômenos. Daí para atingir o radicalismo é um passo. Tanto...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!