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Posto o fato, todos viramos doutores em fatos.

Aliás, essa é uma característica dos brasileiros: entendem melhor que ninguém sobre tudo, desde que tudo já tenha acontecido.  Somos doutores em leite derramado.

Esquecem e ignoram – até por não saberem, na maioria dos casos – o princípio básico, isto é, a regra e não a exceção, que norteia as ações relativas às crianças e aos adolescentes. Está lá, no ECA: a prioridade sempre será a convivência no seio da família de origem. Apenas excepcionalmente será uma criança ou um adolescente colocado em família substituta ou em abrigos:

Art. 19 Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta,…

§ 3o  A manutenção ou reintegração de criança ou adolescente à sua família terá preferência em relação a qualquer outra providência,…

As providências tomadas tanto pela promotora de Justiça, quanto pelo juiz foram as providências que são tomadas em qualquer caso: não havendo elementos que caracterizassem situação de risco e, PRINCIPALMENTE, diante da concordância do Bernardo em voltar para casa, teria sido um arbítrio se o juiz, com o apoio da promotora de Justiça, fosse retirado de casa. Some-se a tudo, o fato de que o juiz não se convenceu de que a avó tivesse reais condições para receber a guarda do Bernardo.

Milhares de crianças e adolescentes passam por situação semelhante e nelas tanto há acertos quanto erros nas ações dos promotores de Justiça e dos juízes.

Era absolutamente impossível prever o que iria acontecer.  E mais: se o aparente motivo – o dinheiro do Bernardo – se confirmar, é bem provável que o crime viesse a ocorrer mesmo morando com a avó.

Agora, posta a situação, todo mundo virou entendido em casos de infância e juventude. Não há brasileiro que não tenha virado doutor no assunto e não esteja apontando o dedo para o Ministério Público ou para o Poder Judiciário.

Vê-se de tudo, uma verdadeira histeria coletiva em busca de culpados que não aqueles que realmente o são: os que mataram Bernardo!

Mas esse é o Brasil dos brasileiros, o país da paixão desenfreada e dos doutores em tudo!

Só não somos doutores em uma coisa: no uso da razão!

E a razão é clara: se há culpa, essa com certeza não é da promotora de Justiça ou do juiz! Menos ainda das instituições, como muitos histéricos fazem crer…

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyO ChatoPosto o fato, todos viramos doutores em fatos. Aliás, essa é uma característica dos brasileiros: entendem melhor que ninguém sobre tudo, desde que tudo já tenha acontecido.  Somos doutores em leite derramado. Esquecem e ignoram - até por não saberem, na maioria dos casos - o princípio básico, isto é, a...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!