o-segredo-do-bonzo-machado-de-assis

A sociedade está diante de uma decisão sobre seu futuro: o que quer ser quando crescer?

Diferente das oportunidades que têm os adolescentes – os que podem, claro -, de escolher dentre inúmeras profissões, a sociedade, queiramos ou não, só tem dois caminhos: o de seguir sonhando transformar o país em uma grande nação, aos moldes do modelo norte-americano e de alguns países europeus, ou de ser um país diferente, que tenha por base outros critérios.

A maioria do povo sequer imagina o que significam esses caminhos. Alguns poucos têm, realmente, condições de elaborar a diferença entre eles e o que significa cada um como futuro.

Machado de Assis publicou o conto “O Segredo do Bonzo” em 1882.Vão-se lá 132 anos. O segredo é:

“se uma coisa pode existir na opinião, sem existir na realidade, e existir na realidade, sem existir na opinião, a conclusão é que das duas existências paralelas a única necessária é a da opinião, não a da realidade, que é apenas conveniente.” (para quem quiser ler, o que recomendo, aqui.

A par dos inúmeros estudos realizados sobre a obra, o fato é que ela segue atualíssima quanto ao fato da sociedade brasileira ser rasa em sua natureza. E por rasa refiro-me ao fato de se deixar conduzir pelas mais simples e inacreditáveis opiniões.

Há, inclusive, entre nós, a figura do “formador de opinião”. Patimaus e Langurus da Fuchéu brasiliensis. E o povo a lhes carregar aos braços.

Sempre vivemos – daí o eterno ser raso – da opinião criada e não da realidade. Vivemos de acreditar que “grilos procedem do ar e das folhas de coqueiro, na conjunção da lua nova”, ou que nosso futuro provém de “uma certa gota de sangue da vaca”.

O modelo neoliberal, apregoado por Patimaus e Langurus e tão acreditado por camadas do povo que se pensam sábias, não passa de uma ilusão vendida para substituir a realidade, um grilo, uma gota de sangue de vaca. E a realidade é que o Brasil nunca chegará a ser como os atuais “países desenvolvidos”. E por uma simples razão: chegamos tarde nesse modelo. E chegamos tarde sem ter as mesmas condições que esses países tiveram quando começaram a se desenvolver.

Ser desenvolvida, no modelo neoliberal, é algo literalmente impossível para qualquer sociedade que tenha começado a trilhar esse caminho a partir do final do século XX. Assim como temos um país de excluídos, o “concerto das nações”, no modelo neoliberal, é um modelo de países excluídos.

A exclusão é da natureza do sistema. Essa a realidade do sistema. Mas os formadores de opinião, quase todos do lado dos não excluídos, vendem que com ele todos serão felizes e seremos um grande país. E são carregados como como grandes sábios.

Temos dois bons representantes hoje em dia: Aécio Neves e Marina Silva. Aprenderam o segredo do bonzo e saíram, como Titané e Diogo Meireles, respectivamente, a vender alparcas e narizes metafísicos. E o povo, dito esclarecido, os carrega aos ombros. Ambos carecem de realidade, mas enganam com suas opiniões.

O segundo caminho, o caminho da realidade, é de difícil aceitação, pois é o caminho da mudança. É o caminho que tem por base um desenvolvimento criado aqui: um desenvolvimento inclusivo.  É isso que vemos na realidade.

E nesse modelo de desenvolvimento os países “desenvolvidos” perdem, pois chegarão tarde nele, assim como chegamos tarde no modelo neoliberal.

Temos a oportunidade de escolher ser uma sociedade inclusiva, um país para todos e não apenas para alguns. Podemos deixar, definitivamente, de sermos rasos como sociedade.

Ou vamos seguir acreditando que nosso futuro depende de “uma certa gota de sangue da vaca”…

(o conto do Machado de Assis foi uma sugestão da amiga Cristina Mello, no Facebook)

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyO ChatoA sociedade está diante de uma decisão sobre seu futuro: o que quer ser quando crescer? Diferente das oportunidades que têm os adolescentes - os que podem, claro -, de escolher dentre inúmeras profissões, a sociedade, queiramos ou não, só tem dois caminhos: o de seguir sonhando transformar o país...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!