barbosa

Qualquer juiz de qualquer Vara de Execução Penal, diante de um preso em situação de risco de vida, sabe que a vida deve ser considerada acima de tudo. Todos os dias, milhares de presos são transferidos de lá para cá e de cá para lá. Basta uma declaração de que está, por exemplo, ameaçado de morte, e o juiz logo determina a transferência.

Nos casos de doenças – e mais ainda nas graves – o ato é imediato. E por quê?

Porque o Estado é responsável pela vida dos presos. E qualquer um, consciente das suas funções de agente do Estado, sabe que não pode brincar com a vida das pessoas. Mesmo que seja a vida do maior bandido que possa existir.

E por aqui, no chão de fábrica, os juízes não brincam. Só que nem tudo é chão de fábrica nesse país.

Existe um bandido que sequer vale a vida que tem. Não, ele não é um estuprador de crianças; não é um assassino das crianças que estuprou; não assalta bancos; não trafica ou vende drogas; não é motorista que atropela e mata pessoas paradas na calçada, ou ciclistas; não sequestra pessoas e as mantém sob intenso terror; não superlota uma boate e coloca espuma no teto; não mata os pais por dinheiro; não mata a namorada e dá o corpo para os cachorros… Todos esses terão suas vidas resguardadas pelo Estado.

Existe um bandido que o Estado colocou a vida em risco. E por quê?

Porque escolhemos um sistema que dá a um único homem, dentre 190 milhões, o poder de decidir sozinho se a vida de alguém deve ou não ser preservada. Oficialmente não temos pena de morte (salvo raros casos previstos no Código Penal Militar), mas uma acaba de ser decretada.

Não é necessário o enforcamento ou a cadeira elétrica. O Estado mata aos poucos, pelas consequências dos atos que expede. É fácil, não há culpa, apenas o estrito cumprimento da lei.

É assim que o Estado mata quando não quer assumir que tenha decretado a pena de morte. Todos sabemos que a moral mata. Mata até adolescentes que tiveram os seios expostos na internet contra a sua vontade.

Submeter um homem doente ao escárnio moral é decretar a pena de morte pela consequência. E é assim que o Estado está matando um seu prisioneiro.

Mas esse Estado tem nome. Esse Estado que decretou a pena de morte por consequência dos seus atos chama-se Joaquim Barbosa.

José Genoíno morreria mais cedo ou mais tarde. Quiça mais cedo do que a média, pela doença que tem. Mas Joaquim Barbosa está fazendo com que a morte lhe seja muito mais rápida do que o esperado.

Genoíno pode ser o pior dentre os piores bandidos e sua vida pode não valer nada. Mas Barbosa não tinha direito de fazer o que fez. Nem o dos homens e sequer o que é atribuído a um deus.

Barbosa decretou: vais morrer antes do que esperavas. E vais morrer pelo mal moral que estou te causando. Não importa o quanto te julgues inocente, eu te julgo culpado e a ti sentencio a morte!

Barbosa é a humanidade que perdemos. É a nossa barbárie personificada e que admiramos. Barbosa é a morte de tudo quanto pensávamos ainda haver de bom nos homens.

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyO ChatoQualquer juiz de qualquer Vara de Execução Penal, diante de um preso em situação de risco de vida, sabe que a vida deve ser considerada acima de tudo. Todos os dias, milhares de presos são transferidos de lá para cá e de cá para lá. Basta uma declaração de...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!