O recente episódio de barbárie entre as torcidas do Atlético PR e do Vasco da Gama trouxe ao mundo o debate sobre a segurança interna nos estádios de futebol.

Nessas horas a nossa tão característica hipocrisia assume as rédeas e passa a ditar as opiniões. Desde as mais bobas, tipo “isso é o Brasil”, “imagina na Copa”, “essa é a educação do nosso povo”, e tantas outras absolutamente desclassificáveis, até as mais graves, as que apontam o dedo para o Estado como responsável pela segurança nos estádios.

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O buraco é mais embaixo, não é assim que dizemos?

Ser o “país do futebol” confunde a maioria das pessoas, principalmente os torcedores (e lembremos, nem todos os 195 milhões de brasileiros “curtem” futebol): eles pensam que futebol é res publica.

Não, não é! Futebol é negócio privado e como tal deve ser tratado pelas autoridades públicas. E isso deveria ser entendido principalmente pela mídia futebolística, que alardeia a falta de segurança nos estádios como sendo culpa dos governos. Exercem não apenas um papel errado nisso tudo, como se tornam instrumento da violência.

Aqui no RS, houve uma decisão de retirar a Brigada Militar (polícia militar) dos estádios. Foi, também, uma opinião do chamado “Conselhão” (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Estado do RGS). O Conselhão agrega representantes de todos os segmentos da sociedade gaúcha, vale dizer, suas posições tem o condão da representatividade.

Em Santa Catarina também. Polícia Militar e Ministério Público entenderam que a questão da segurança interna dos estádios é um problema particular. Claro que, de jornalistas a desinformados, passando pelos habituais de má-fé, trataram de criticar a decisão. Mais ainda, hoje, diante do ocorrido.

O que as pessoas não querem ver – e talvez por influência da propaganda – é que futebol é, sim, um negócio privado. E estádios são locais privados que cobram ingresso e não espaços públicos onde qualquer um, se desejar, pode entrar.

Mas como somos, historicamente, um país onde o privado se apodera do público como sendo seu, é normal que pensem caber ao Estado a defesa de negócios particulares. E que não se confunda torcedores (mesmo que em grande número) com “serem público”.

São e sempre serão consumidores de um espetáculo promovido por empresas privadas, às quais a lei confere a obrigação de garantir a segurança dos seus clientes. Ao preço cobrado deve ser oferecido o espetáculo e a segurança correspondente.

O problema é que torcedor de futebol e mula sem cabeça tem algo em comum: ambos não têm cabeça. E quem não tem cabeça, por óbvio não pensa. Segue a manada que acredita – influenciada pelos proprietários do futebol – que futebol é res publica e que, portanto, cabe ao Estado garantir a segurança.

Definitivamente, não cabe!

E tem mais: se cabe ao Estado a segurança, deve caber, também, o poder de decidir sobre os campeonatos, coisa que qualquer um sabe que não existe. A única “ingerência” que o Estado pode ter sobre o futebol – e isso é a mais cabal das provas de que futebol é negócio privado – está na CF: em última instância, times ou jogadores sempre poderão recorrer ao Poder Judiciário.

Mas vejam que interessante: A CBF ameaça desassociar qualquer time que queira resolver pendengas no Judiciário.

Resumindo: a máfia do futebol – e todos sabemos que é uma máfia – manda como quer e, inclusive, se acha dona do Estado. Um único “craque” ganha, por mês, o equivalente a milhares de soldados. Que banquem a própria segurança.

Louvável a atitude das polícias militares e dos ministérios públicos. Simples assim.

O Estado é nosso e não da máfia do futebol!

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyO ChatoO recente episódio de barbárie entre as torcidas do Atlético PR e do Vasco da Gama trouxe ao mundo o debate sobre a segurança interna nos estádios de futebol. Nessas horas a nossa tão característica hipocrisia assume as rédeas e passa a ditar as opiniões. Desde as mais bobas, tipo 'isso...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!