Entre quatro paredes!
Afinal, o que é uma biografia não autorizada?
Que paredes separam a vida pública da vida privada e que podem estabelecer o limite do que pode ou não ser publicado sobre a vida das pessoas?
Viver em sociedade torna pública nossa vida, ou isso está apenas escrito nas entrelinhas do contrato social que assinamos antes mesmo de nascer? A menos que biografias publiquem depoimentos de pessoas que privaram da nossa vida entre as quatro paredes, tudo o mais é, por definição, público.
Podemos proibir o ato de juntar em um único volume (ou mais, dependendo do quanto a vida do biografado foi publicamente interessante) tudo aquilo que já havia sido publicado, ou divulgado, antes? Qual a diferença?
Se bem me recorde das biografias que li, existem dois tipos: as que narram os fatos da vida e as que, além de narrarem, são carregadas de interpretações do biógrafo sobre os fatos narrados.
Leiam, por exemplo, o verbete “Caetano Veloso” na Wikipédia. É uma biografia. E é uma biografia que narra fatos e que emite juízos de valor. Lá encontramos o seguinte:
“Caetano construiu uma obra musical marcada pela releitura e renovação e considerada amplamente como possuidora de grande valor intelectual e poético”
O autor do verbete, embora citando fontes como manda o bom uso da Wikipédia, emite uma opinião que pode não ser a opinião de muita gente. Por outro lado, procurem, na mesma Wikipédia, algum verbete que diga que “Fulano construiu uma obra musical considerada amplamente como despossuída de valor intelectual e poético”.
A pergunta fundamental a ser respondida nessa questão é: uma vida a ser biografada tem valor em si mesma, ou o valor dessa vida é atribuído pelo público?
Caetano e os demais “rebeldes” são o que são tão somente porque o público lhes deu esse valor (com uma ajudinha do marketing da indústria fonográfica, claro). Sem isso, suas vidas permaneceriam obscuras dentro das quatro paredes.
Repito: eles são o que são por um desejo íntimo de se tornarem públicos. Precisavam ser públicos para obter o sustento das suas vidas.
O verbete da Wikipédia ainda nos diz que Caetano “Colaborou com os primórdios de um estilo musical que ficou conhecido como MPB (música popular brasileira), deslocando o melodia pop na direção de um ativismo político e de conscientização social.” (cito Caetano apenas como exemplo. Poderia ter dedicado a pesquisa para qualquer um deles. Que fique claro isso!)
Eis que agora, um cidadão que quis ser público, que lutou como ativista político e formador de uma consciência social de toda uma geração, resolve achar que sua vida não é mais pública e que deve ter todos os direitos ($$$) sobre o que possa ou não ser publicado.
Como jovem naquela época, tive muito da minha consciência política e social influenciada por essas pessoas públicas.
E é na defesa de tudo quanto aprendi com eles, que tomo a decisão: continuarei com a consciência que ajudaram a formar. Quanto a vocês, Adeus!
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