Entre a forma e a substância!

Entendi o que era essa tal de democracia quando, aos dezessete anos, então editor do jornal do colégio, publiquei, na íntegra, entrevista que fiz com o novo diretor da escola.

De imediato fui chamado ao “comando”.

– Escosteguy! Disse o comandante.

(ainda jovem, não tinha conhecimento das relações familiares, daí meu espanto ao ser “reconhecido”)

Demonstrando que sequer estava surpreso com a minha reação, seguiu, “não esperava isso de ti…” E seguiu com a história dos laços familiares e da amizade de mais de 40 com o meu pai e minha mãe.

Caralho, pensei! Minha vida de futuro ditador da República foi pro brejo!

Foi quando aprendi a minha primeira e grande lição do que era a tal da democracia: manda quem pode, obedece quem tem juízo.

Dito como me foi dito: “nem tudo o que te disse pode ser publicado. Te disse certas coisas apenas por seres filho do … e da … .

No dia seguinte publiquei a nova edição, recolhendo a anterior. Era fácil, afinal, em um colégio regido por leis que mudavam a cada momento que era preciso mudar o país…

Nesse dia entendi, finalmente, o que era a tal da democracia.

Nesse mesmo ano bateram na porta da minha casa: alguém avisando que eu havia sido chamado para a AMAN.

Aos poucos completados dezoito anos, tive que tomar a segunda grande decisão da vida. E decidi: canhões não seriam a minha arma!

Entre a forma e a substância percebi que a substância, à época, era a mais importante. Lições do jornalzinho…

Ter apanhado dos “porcos” (como eram chamados os brigadianos naqueles tempos) e ter sido preso, em 1974, é apenas um detalhe.

Ter sido libertado por ser filho “do meu pai”, também é mero detalhe.

Detalhe do que é a “democracia”…

Há quem escolha a forma. E há quem escolha a substância.

Eu escolhi a substância.