Trem-Bala

Algumas considerações preliminares, na tentativa, quase impossível, de não ser interpretado de maneira diversa daquela que o texto pretende dar aos fatos:

1. Não sou a favor, mas também não sou 100% contra;

2. Admito que a vinda tem um grande aspecto positivo (e praticamente o único): as obras de infraestrutura que permanecerão após a sua saída;

3. Posso estar atrasado na análise – e imagino que esteja quase certo nisso – posto que as notícias que li, hoje, foram publicadas no sábado.

Feitas as ponderações, vamos ao fato:

a Fifa, segundo as notícias (http://br.tv.yahoo.com/blogs/tv-esporte/após-vetar-lázaro-ramos-e-camila-pitanga-fifa-124023013.html ehttp://www.geledes.org.br/patrimonio-cultural/artistico-esportivo/esportes/futebol/22073-apos-vetar-lazaro-ramos-e-camila-pitanga-fifa-escolhe-casal-para-copa-fernanda-lima-e-rodrigo-hilbert), teria preterido a indicação dos atores Lázaro Ramos e Camila Pitanga e escolhidos Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert para apresentarem o evento de sorteio das chaves da Copa 2014.

O blogueiro do Yahoo é explícito ao conduzir a questão para o racismo. Começa no título. No segundo site, o racismo se desdobra pelos comentários (pérolas que merecem ser lidas).

Anda muito complicado viver no Brasil (será no mundo?) hoje em dia. Os patrulheiros do politicamente correto não perdoam uma vírgula fora do lugar. Sequer é possível imaginar a hipótese de que uma organização privada (por mais que organize um espetáculo público) tenha suas razões para escolher quem represente, nos seus eventos, a sua imagem ou, pior ainda na mente dos imbecis, que ela tenha critérios que até poderiam ser considerados técnicos para a escolha.

Não, o trem-bala atropela quem ousar não pensar que seja uma pura e simples manifestação de racismo. Ou, então, de mais uma desconsideração com a “raça” brasileira, que de tão miscigenada, chega a ser considerada “pura” por muitos militantes do PC.

Dia desses, me recusei, com uma leve bricadeira, a ser beijado por um homem manifestamente gay, nos cumprimentos de um encontro de pessoas. As circunstâncias permitiam que tivesse feito isso. Ato contínuo, e não em tom de brincadeira, vi um dedo sendo apontado para mim acompanhado de um “cuidado com o preconceito!”.

O mesmo peso e a mesma medida do trem-bala: a Fifa ter escolhido um casal em detrimento de outro vira racismo; eu ter me recusado a ser beijado vira preconceito. Já muito beijei e fui beijado por amigos homens, independente de como realizam suas necessidades afetivas nas suas manifestações sexuais.

Ai de quem não pense mil vezes antes de usar palavras (ditas ou escritas) como “índio”, “mulher”, “prostituta”, “negro”, cadeirante, cego, e tantas outras, que se vivo fosse, Houaiss escreveria o Dicionário Houaiss do Português Politicamente Correto.

Vocês, condutores e passageiros desse trem-bala da imbecilidade, do politicamente correto e do patrulhamento “à lá séc XX”, já chegaram no limite. Como disse no início, não sou a favor da realização da Copa no Brasil, mas, pelo item 2, também não sou 100% contra.

Pessoalmente prefiro mil vezes a Camila e o Lázaro, não por serem negros, mas por serem mais bonitos, mais expressivos, com uma carga pessoal muito mais representativa para apresentar um evento.

Mas assim como tenho o meu gosto – e que pode ser discutido sim, mas em bases que não sejam apenas o racismo – a Fifa deve ter o dela. Simples assim.

Está na hora desse trem bater de frente com uma parede e deixar as pessoas e organizações com a liberdade que lhes é da existência.

Enquanto houver patrulha, não haverá liberdade!

Considerações finais: escolham, os do PC, o plural de trem-bala e se ainda tem ou não o hífen.

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyO ChatoAlgumas considerações preliminares, na tentativa, quase impossível, de não ser interpretado de maneira diversa daquela que o texto pretende dar aos fatos: 1. Não sou a favor, mas também não sou 100% contra; 2. Admito que a vinda tem um grande aspecto positivo (e praticamente o único): as obras de infraestrutura que...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!