Por Ramiro Furquim/Sul21

Dez serão poucas, mas vamos tentar ficar em dez…

1. O candidato ao senado pelo Rio Grande do Sul perdeu uma grande oportunidade. Em entrevista para o jornal Sul21 (intitulada “Não devo nada para a RBS e nem para a Caldas Jr.“), bem poderia ter dado mostras de estar preparado para o cargo que pretende. Mas não. Jogou um espaço importante fora.

Não gosto de gente que perde oportunidades.

É um modelo que não me serve.

2. O candidato deixou a RBS, mas a RBS não saiu dele, por mais que tente negar. A entrevista está toda permeada de afirmações típicas de jornalista da mídia oligárquica, tipo “que aproveite melhor os pesados impostos que nós pagamos, os quais são os mais caros do mundo. E temos os juros mais altos do mundo.”

São generalizações que, sabemos, não são verdadeiras. Definitivamente, não temos a maior carga tributária do planeta. Mas o jornalista candidato insiste no discurso.

Da mesma forma que o faz quando diz “O Brasil está crescendo pouco, a inflação está de volta, vivemos uma época de desindustrialização, estamos ameaçados pelo apagão da energia, mesmo que ela seja uma pessoa entendida nisso.”

O que é “crescer pouco”? Será que o parâmetro é 10%? 20%? Quanto devemos crescer para que a oposição se satisfaça? Será que o candidato recorda os índices de crescimento anteriores ao governo do PT? Ou faz questão de apenas lançar bravatas jornalísticas?

A inflação está de volta? De qual inflação o candidato, em mais um pronunciamento jornalístico, está falando? De uma inflação de 6/7% absolutamente estável há tempos?

Apagão, caro candidato? Mais discurso jornalístico. Com essa acabo o item.

Não gosto de gente que perde oportunidades.

É um modelo que não me serve.

3. “Qual é o mal de eu trabalhar numa empresa de comunicação? Qual é a pecha que eu mereço por isso?”

A entrevista demonstra, sobejamente, o mal que há nisso. O candidato tem um discurso único e típico de jornalista da mídia oligárquica.

Demonstrou ser incapaz de reconhecer a realidade e de fugir das bravatas e do generalíssimo “está tudo ruim, nada presta no Brasil”.

Não gosto de gente que perde oportunidades.

É um modelo que não me serve.

4. O candidato opta pelo discurso do “se tem uns poucos ruins, então todos são ruins”. E cita Lula (“Lula, quando foi deputado federal, disse que a Câmara tinha 300 picaretas, ele já sabia.”) para justificar o pensamento.

Se assim fosse, porque não se dedicar aos 213 que não são “picaretas” e apresentar propostas para tornar o Congresso um local com menos picaretas? É o discurso de apontar o que pensar ser ruim, mas ser incapaz de apresentar soluções ou alternativas.

E a crítica é dirigida apenas à Câmara dos Deputados (“O Parlamento, em geral, hoje é caro e improdutivo. A Câmara dos Deputados é um mar de pessoas onde pouca coisa se concretiza, exatamente pela pulverização do Parlamento. No Senado é mais fácil desenvolver um projeto”). O Senado é um mar de rosas produtivas. 

Será que ele vai abrir mão das dezenas de servidores (“mar de pessoas”) que terá a sua disposição?

Não gosto de gente que perde oportunidades.

É um modelo que não me serve.

5. As três propostas:

Tenho no meu santinho três propostas básicas: mais recursos para o Estado (o RS envia para a União cerca de R$ 35 bilhões por ano em impostos federais e recebe de volta apenas R$ 12 bilhões, enquanto a Bahia envia R$15 bi e recebe R$ 25 bi de retorno). Então nós, gaúchos, que estamos hoje no fundo do poço, pagamos a conta de outros. Proponho ainda escola de tempo integral e combate ao desperdício. Os recursos públicos precisam ser investidos com seriedade, planejamento e respeito ao bolso do contribuinte. É papel do senador fiscalizar a aplicação desse dinheiro para que o governo federal possa investir mais naquilo que a população precisa.”

Quero crer, se bem li, que o candidato falou em “propostas” e não em apontamentos do que julga ser um problema. Mas foi isso que ele fez: apontou um problema mas não apresentou proposta alguma.

Como irá resolver? Com fiscalização, como diz no último período?

Todo mundo sabe como funcionam “as coisas” na administração de um país. Parece que menos o candidato, que sonha com “fiscalização”… Que os recursos públicos precisam ser investidos “com seriedade, planejamento e respeito ao bolso do contribuinte” é outra coisa que todo mundo sabe.

Mas como pretende fazer isso? Ou ele se esquece – propositadamente – que o partido dele, o PDT, é parte do governo que ele afirma investir sem seriedade, sem planejamento e sem respeito ao bolso do contribuinte?

Nesse aspecto a candidata Ana Amélia Lemos tem sido mais coerente: seu partido é parte do governo federal e ela tem, no Senado, ajudado o governo. E não confunde o RS com a União, da qual faz parte.

O candidato deveria observar melhor a companheira de mídia oligárquica e aprender um pouco com ela como se faz política no Brasil.

O candidato não tem propostas além da única que é ser contra o governo federal…

Não gosto de gente que perde oportunidades.

É um modelo que não me serve.

6. Instado pelo entrevistador (e caso não tivesse sido, a questão das propostas teria passado em brancas nuvens) a apresentar algo de concreto com relação à dívida do Estado, o candidato sai com a “pérola da moda”: “Se não for amigavelmente, vamos para o Supremo requerer auditoria sobre isso.

Incapazes de agir como Poder que legisla, apela para o Judiciário para que resolva tudo. Se parassem de brincar de fazer CPI’s contra o governo, talvez sobrasse tempo para avaliar as leis que eles mesmos criam.

Demonstração mais que cabal do desconhecimento do papel dos poderes. Só para constar – e sem querer ofender – mas quem faz auditoria é o Tribunal de Contas – que é parte do Poder ao qual ele se candidata – e não o Supremo.

Não gosto de gente que perde oportunidades.

É um modelo que não me serve.

7. O candidato definitivamente não sabe o que é fazer – ou ser – política. Reclama da presidenta: “a presidente da República domina o Congresso com 80% de apoiadores, exerce profunda influência no Judiciário, onde no Supremo e nos demais tribunais superiores o governo nomeia os ministros.”

Alguém, por favor, avisa ao candidato que é assim mesmo que se joga esse jogo? Se a presidenta, como ele diz (o que é uma outra grande mentira dele) domina 80% do Congresso, que tal pensar que isso é mérito dela e que temos 80% que apoiam o que ela faz?

O candidato se contradiz quando afirma isso e quando afirma que está tudo ruim no Brasil. Oitenta por cento dos parlamentares adoram concordar com coisas ruins que são feitas ao Brasil? É isso, candidato?

8. Agressões pessoais. Coisa absolutamente desnecessária para um candidato ao Senado. O candidato apresenta uma proposta para a formação dos tribunais superiores que merece análise. É uma pauta que a nação trouxe para a agenda desde que o STF resolveu virar “midiático”.

Mas o mais interessante, é que o candidato se contradiz novamente. Diz que os ministros devem ser escolhidos por 21 personalidades jurídicas para, logo em seguida, “descascar” um ministro: “Este Toffoli (ministro do Supremo Dias Toffoli) vai ficar 30 e poucos anos como ministro, e nem foi capaz de passar em concursos para juiz de Direito, foi advogado do PT, de José Dirceu. As pessoas que vão para lá têm que ser idôneas, confiáveis.”

Mais uma vez o candidato demonstra total desconhecimento de como as coisa funcionam na escolha de um ministro dos tribunais superiores. Aliás, ignora por completo a Constituição – votada por detentores do cargo a que ele almeja – que determina que tribunais superiores devem ter o “quinto constitucional”.

Portanto, jamais um candidato poderia falar em “nem foi capaz de passar em concursos para juiz de Direito”, pois isso não é condição para ser ministro.

Ofendeu profunda e desnecessariamente um ministro e mostrou o porquê de tê-lo feito: porque teria origem no PT.

E ele, que não pensa ser senador para defender o RS, preocupa-se em mostrar sua única plataforma e que é a mesma plataforma que sempre defendeu como jornalista: ser contra o governo do PT e contra o próprio PT.

Não gosto de gente que perde oportunidades.

É um modelo que não me serve.

9. Gestão. “o mais absurdo defeito da gestão pública brasileira é a Petrobras. Petróleo dá lucro em qualquer parte do mundo, no Brasil a Petrobras é deficitária, é uma caixa-preta, está toda endividada, os diretores ganham fortunas de salários e nós pagamos combustíveis tão caros, além disso demoramos a explorar o pré-sal. Temos que entrar com uma auditoria na Petrobras”.

O jornalista que obedece aos patrões da mídia oligárquica não saiu dele. Não adianta tentar. Afirmação rasa, típica de jornalista e não de um candidato ao Senado da República.

A Petrobrás não está deficitária (a própria mídia que o empregou admite isso), dá lucro, a gasolina é, comparativamente a outros países, nem tão cara assim e se demoramos para explorar o pré-sal foi justamente pelo necessário debate social sobre um tema tão controverso.

E novamente o candidato aparece com uma “auditoria”. Será que ele vai pedir mais essa ao Supremo?

Não gosto de gente que perde oportunidades.

É um modelo que não me serve.

10. Como visto até aqui – e vou ter que continuar com mais 10 razões – o candidato Lasier Martins é um total despreparado para o cargo que pretende. E a décima razão dessa primeira parte é justamente essa: que queira ser senador, é um direito de qualquer cidadão maior de 35 anos.

E, sabiamente, os próprios senadores ajudaram a construir o conceito de que basta a idade – e um mínimo de alfabetização –  como condição para o exercício da representação popular…

(segue…)

(imagem do Sul21: Ramiro Furquim)

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyO ChatoDez serão poucas, mas vamos tentar ficar em dez... 1. O candidato ao senado pelo Rio Grande do Sul perdeu uma grande oportunidade. Em entrevista para o jornal Sul21 (intitulada 'Não devo nada para a RBS e nem para a Caldas Jr.'), bem poderia ter dado mostras de estar preparado...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!