Há algo de significativo na expressão desse policial, que extrapola o simples cumprimento de um dever. O dever é burocrático: a ordem superior manda jogar gás?  Jogamos sem discutir.

Mas, quando manifestamos nossos sentimentos no cumprimento do dever, deixamos de ser servidores públicos.

E nisso nos igualamos a qualquer baderneiro, a qualquer vândalo.

Policiais no estrito cumprimento do dever são absolutamente iguais aos manifestantes no estrito exercício dos seus direitos.

Nem um, nem outro, podem extrapolar para trazer raivas pessoais como armas. Mesmo porque, toda raiva costuma ser potencializada por armas. No caso da imagem, o policial tinha arma. O jornalista, ou os manifestantes, não (a não ser que passemos a considerar, conforme declaração do comandante da ação em São Paulo, vinagre como arma).

O que há de significativo está além da expressão de raiva do policial ao atacar um jornalista indefeso. Está no limite a que chegamos. O limite que deveria colocar manifestantes e policiais lado a lado.

Policiais e manifestantes, cada um ao seu modo, estão a dizer: basta!

Basta de 37 milhões de cidadãos não poderem exercitar seu direito de ir e vir porque não podem pagar pelo transporte.

Basta para um poder público que privilegia o privado em detrimento dos cidadãos.

Basta de consideramos o direito de ir e vir apenas como o direito de quem anda de automóvel.

Basta de condescendência com um modelo que paga uma merreca para o policial que se vê obrigado a bater na sua imagem e semelhança, enquanto paga salários exorbitantes para quem fica em gabinetes apenas mandando.

Tenho feito um esforço para extrapolar o raso desejo de odiar esse policial pela raiva que expressou ao atingir o jornalista, ou a algum manifestante.

Tenho tentado entender que ele tenha sido movido por “violenta emoção” ao se ver privado de estar do outro lado.

Desejo, sinceramente, que esse policial não esteja conseguindo dormir. E se realmente não estiver, a ele digo que durma, pois estarei ao seu lado contando histórias de um mundo possível, um mundo onde ele poderá ser um policial que tem apenas por dever abrir passagem para o povo passar.

Um mundo que entenda que o povo, mais que um prédio, uma praça ou uma estátua, é patrimônio da nação. E, como tal, também deveria ser protegido pelas autoridades!

Seja qual for o meu entendimento, uma coisa é certa: naquela expressão o policial carregava a expressão de um Estado que não queremos (ok, alguns até gostam e querem).

Basta desse Estado!

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyBrasil Sem PIGFacebookHá algo de significativo na expressão desse policial, que extrapola o simples cumprimento de um dever. O dever é burocrático: a ordem superior manda jogar gás?  Jogamos sem discutir. Mas, quando manifestamos nossos sentimentos no cumprimento do dever, deixamos de ser servidores públicos. E nisso nos igualamos a qualquer baderneiro, a...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!