classe media

Parece haver um consenso entre brasileiros: o de que definir, ou conceituar, classe social tomando apenas a faixas de renda não é um bom caminho. Estatisticamente até se pode dizer que uma faixa de renda que contenha 54% da população, seja “média”, mas isso não espelha a realidade.

Sem dúvida que o governo precisa de critérios objetivos para desenvolver e aplicar políticas sociais. Caso contrário, poderá dar bolsa família para os 1% mais ricos, ou passe livre no transporte para os membros do seleto Clube da Ferrari.

O maior problema dessas classificações, no entanto, é que a classe média insiste em não ser “média”. Rico não se incomoda de ser chamado de rico. Pobres e miseráveis já estão acostumados. Pois um fenômeno interessante ocorreu a partir dos governos do Lula e da Dilma: a tão difamada “nova classe média”.

É um conceito puramente baseado em renda e serve apenas para a aplicação de políticas de governo. Mas a classe média, que não se identifica como média, passou a ter uma identidade: a de não ser a nova classe média.

O livro “A ‘nova classe média’ no Brasil como conceito e projeto político”, lançado recentemente, expõe claramente essa identidade que a “velha” classe média começa a criar para se diferenciar da “nova”. Nele, o sociólogo e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, Jessé Souza, expõe a diferença: falta capital cultural aos novos integrantes da classe média.

Por capital cultural, explica o autor de um dos artigos do livro: “A ‘verdadeira’ classe média é constituída pelo acesso privilegiado a um recurso de extrema importância: o capital cultural. É apenas a classe média ‘verdadeira’ que pode ‘comprar’ o tempo livre de estudo de seus filhos e assim reproduzir seus privilégios de classe. É esse fundamento social ‘invisível’ que explica não só a renda diferencial, mas também o reconhecimento social atrelado a isso”.

E aqui entramos no ponto: quando a “verdadeira classe média”, na expressão de Jessé Souza, reclama por saúde de qualidade, por educação de qualidade, por transporte de qualidade estará reclamando algo que lhe falta? Ou reclama para a nova parcela desprovida de “capital cultural”?

A parcela que, como diz o artigo (Carta Capital) “Vive um cotidiano marcado pela ausência dos ‘privilégios de nascimento’ que caracterizam as classes médias e altas, pelo extraordinário esforço pessoal, pela dupla jornada de trabalho e pela ‘super exploração da mão de obra’”, ou, ainda, “Segundo as pesquisadoras da Universidade Federal Fluminense Celia Lessa Kerstenetzky e Christiane Uchôa, os domicílios localizados no intervalo de renda relativo à nova classe média correspondem a 31,5 milhões, no quais vivem 38 milhões de crianças e jovens. Destes, 75% possuem apenas um banheiro, enquanto 390 mil não dispõem de nenhum.”

A classe dos ricos não precisa optar. E sequer de “capital cultural” para que seus membros tenham o que lhes bem aprouver. A classe dos pobres e miseráveis não tem opção. Seus membros nunca tiveram, até o momento em que alguns resolveram fazer uma opção: a opção pela inclusão, a começar pela inclusão na renda. Renda atrelada a quê? Não ao consumismo, como insiste a “velha classe média”, tentando desqualificar as ações do governo, mas pela inclusão na educação, obrigatoriedade, por exemplo, do programa Bolsa Família.

Mas a classe média, que vive em permanente crise de identidade, tem optado por manter o “capital cultural” fora do alcance dos “emergentes”. Não tem sido outro o discurso dos conservadores brasileiros, da direita e, hoje, até muitos da esquerda.

O retrocesso, cujas forças já estão em curso, se dará, quem sabe, muito mais pela “nova classe média”, originada na esquerda – que um dia já teve identidade – do que pela “velha classe média” que, como sabemos, carece de identidade.

Se quisermos manter as mudanças já obtidas – e ampliá-las – devemos cobrar que tanto a velha, quanto a nova classe média, façam uma opção, a opção por aquilo que todos somos: trabalhadores.

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyClasse MédiaO ChatoUncategorizedParece haver um consenso entre brasileiros: o de que definir, ou conceituar, classe social tomando apenas a faixas de renda não é um bom caminho. Estatisticamente até se pode dizer que uma faixa de renda que contenha 54% da população, seja “média”, mas isso não espelha a realidade. Sem dúvida...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!