Nosso vereador (de quem, cara pálida?) Felipe Camozzato (eleito deputado estadual pelo Partido Novo) publica artigo intitulado “Por uma Redenção melhor para todos” (Jornal do Comércio, 24/11/2022).

Interessante notar, antes, que João Amoedo, empresário fundador do partido, dele se desligou:

“Hoje, com muito pesar, me desfilio do partido que fundei, financiei e para o qual trabalhei desde 2010 (…). Infelizmente, o NOVO, fundado em 2011 e pelo qual trabalhamos por mais de 10 anos, não existe mais. Ao longo dos últimos 33 meses, sob a atual gestão, o NOVO foi sendo desfigurado e se distanciou da sua concepção original de ser uma instituição inovadora que, com visão de longo prazo, sem culto a salvadores da pátria, representava a esperança de algo diferente na política.

“O NOVO atual descumpre o próprio estaturo (…) ataca os Poderes constituídos da República e estimula ações contra a democracia”.

Definido o perfil do autor, vamos, como diria nosso querido Jack, por partes. A começar pela classificação do artigo como mera opinião, o que, sem dúvida, o vereador tem todo direito de ter. Mas é bom salientar que não passam de afirmações desprovidas de quaisquer elementos de prova, ou seja, cqd, opiniões.

Começa com uma afirmação taxativa: “A concessão de espaços públicos é um excelente modelo para servir ao cidadão, reconhecido globalmente e referência em países desenvolvidos”. Vamos com calma. Existem concessões e concessões. Alguns modelos de concessão, que necessitam de pesados investimentos, como, por exemplo, rodovias, ferrovias e outros de infraestrutura, podem até ser vantajosos para o cidadão, apesar de, em muitos casos, ter que pagar altas taxas pelo uso dos bens concedidos.

Outra coisa são o que o autor chama de “espaços públicos”, já direcionando a fala para a Redenção. E, novamente, tenta induzir o leitor menos atento ao afirmar que há quem confunda concessão com privatização, como “tese” para ser contra o projeto.

Pecado mortal, meu caro vereador. Deixemos claro definitivamente: ser contra o projeto não tem nada a ver com confundir concessão com privatização. Até nos ofende. Duplamente: por pensar que não sabemos a diferença entre privatização e concessão e por não sabermos a diferença entre concessões necessárias e concessões absurdas. Dava para parar por aqui, tamanho o uso pervertido das afirmações. Mas como dizem os gaúchos, não tá morto quem peleia. Vamos em frente, ora pois!

O segundo parágrafo é uma bela aula de teoria. Daquelas que a gente aprende, desde cedo na escola, que “na prática a teoria é outra”. Tudo lindo e maravilhoso no dia da assinatura do contrato. Nesse dia as entrelinhas não aparecem, as palavras dúbias não possuem interpretação outra que não seja a de “excelente modelo”, as vírgulas mal colocadas passam despercebidas e tudo isso servirá, como sermpre serve, para interpretações jurídicas que só favorecerão a concessionária. E quem pagará o pato? E “quem poderá nos salvar” como diria nosso saudoso Chapolin Colorado? Ah! Diriam os mestres: temos fiscalização.

Como dizem os conselheiros do Conselho Gestor do Parque Ibirapuera (SP): “Onde já se viu a raposa fiscalizar o galinheiro?” (fonte). Aliás, esse é um belo exemplo de que na prática…

Por falar em Parque Ibirapuera, tido pelo autor como “um bom exemplo de sucesso”, recentemente a empresa, a boazinha empresa, está cobrando nada mais nada menos que R$ 42 milhões da prefeitura de São Paulo por alegados “prejuízos” (fonte). BINGO! É a teoria do nosso vereador posta em prática!

Segue o autor com outra pérola (ok, não vou dizer o velho ditado que cita “jogada aos porcos”): o Parque Harmonia. Aí tocou direto nos meus calos. A associação da qual faço parte tem um piquete no Acampamento Farroupilha há mais de 20 anos. E sei o que foi o AF esse ano de 2022, “sob nova direção”. Mas isso é para outro post, tamanha a quantidade de absurdos perpetrados pela concessionária. Esse é um belo exemplo de “melhor para todos”. (ironia mode on).

Uma pergunta: a frase “uma roda gigante inédita e atrações turísticas sem precedentes” serve para que mesmo? No ano que comemoramos 250 anos de uma provinciana cidade é isso que queremos? Uma “disneylândia gaudéria”? Ou é apenas o que querem os setores que realmente têm a ganhar com seja lá o nome que se dê: entregar a gestão do público ao privado, mediante pagamento.

Percebam que, embutida nessa colocação, está todo o DNA do pensamento dessa gente: os “espaços públicos para todos” não passam de espaços turísticos “sem precedentes”. Para poucos.

Last, but not least, afirmar que “Já se foi o tempo em que se confiava apenas ao poder público a responsabilidade pelo desenvolvimento do município”, não deixa de ser uma declaração de que devemos acabar com o poder executivo e entregar toda a administração para a iniciativa privada.

Pensar em otimizar a gestão pública, melhorar processos de trabalho, eliminar apaniguados, combater corporações de ofício enraizadas na administração e mais um mundo de ações internas que podem e deveriam ser feitas, necas, né? Tornar a administração pública eficiente acabaria com o emprego dos políticos. Melhor conceder tudo e ficar com o que interessa: a política que garante seus empregos de políticos de carreira.

NÃO meu caro vereador e futuro deputado. NUNCA, meu caro vereador e futuro deputado. JAMAIS, meu… iremos concordar com a concessão da Redenção (viu? Eu sei a diferença).

O que o senhor e os seus similares genéricos defendem é uma Redenção melhor para poucos.

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