terra de santa cruz

REVOLUÇÃO: derrubada de um governo, eleito ou não, com ou sem uso de força militar, institucional ou não. Participação intensa do povo.

GOLPE: derrubada de um governo eleito com uso de força militar institucional. Toda e qualquer troca de governo que não se dê pelo voto ou pelos mecanismos previstos na Constituição. Participação indireta de parte do povo.

DITADURA: sobreposição do poder executivo, com garantia de força militar, sobre os demais poderes. Eliminação dos direitos constitucionais. Participação direta de parte do povo.

As razões de 64 sempre foram públicas. Nascem em 1822 com a Independência. Um golpe de D. Pedro I contra seu pai (apesar de Portugal ser um Reino). Ao mesmo tempo nasce a natureza política do brasileiro: golpista por razões pessoais e/ou por representação de classe (= comungam de razões pessoais semelhantes).

A República. Novo golpe. A história da República é uma sucessão de golpes. E de ditaduras. A política do “Café com Leite” disfarçava. Getúlio, o “pai das esquerdas” foi um ditador. Assumiu pela deposição de Washington Luís, com ajuda de “força militar institucional” (golpe),  fechou o Congresso (ditadura), fez intervenção nos estados (ditadura) e revogou a Constituição.  Em 37 tivemos o Estado Novo (golpe no golpe e na ditadura dele mesmo). E, no íntimo, tinha claras inclinações fascistas. Foi vencido pelo apelo norte-americano do populismo: nós te garantimos a dependência da nossa economia e tu vais ser o mais popular dos brasileiros. Novo golpe e os militares, em 45, o tiram do governo. Voltou como santinho pelas mãos do povo (51). E, claro, jogou o coração para o povo (54). Um gênio: deu um golpe, implantou uma ditadura e saiu “para a história” como santo. Claro que fez muito para que tenhamos o Brasil que temos hoje. Sem dúvida. Mas fez apenas o que o contexto exigia, ou, como se diz, não fez mais que a obrigação.

Cento e quarenta e dois anos dessa história não poderiam ter outro fim que não o de 1964. Fomos, da a independência até 64, um pais de grupelhos. E sempre os mesmos. Brigavam entre si. Apenas isso.

O que aconteceu em 64, por si só, não teria importância histórica maior do que qualquer outro golpe havido na Terra de Santa Cruz.

Alguns chamam de “contra-revolução”. Não importa o que digam. Foi um golpe. Um governo eleito foi tirado do poder por forças militares institucionais. Não foi pelo voto. E, por mais que queiram dizer que foi uma “revolução democrática”, é mentira.

Em 9 de abril editam o Ato Institucional (será que não sabiam que esse seria apenas o primeiro?), logo conhecido, pelos tantos que sucederam, como AI-1. O golpe virava, em tempo recorde, em uma ditadura:

– determinou ao Congresso que escolhesse o novo presidente em dois dias. Em eleição indireta;

– deu ao novo presidente poderes ilimitados, podendo cassar mandatos parlamentares e suspender direitos políticos;

– o novo governo aposentou funcionários públicos civis e militares e instaurou a investigação sumária, isto é, sem direito à defesa prévia.

Se isso não é uma ditadura, não sei mais o que seja uma.

Não contentes com trazer de volta a democracia, editam o AI-2, fechando o Congresso (“recesso”), acabando com os partidos existentes, intervindo nos estados (= Getúlio, a história sempre se repete), criou a eleição indireta e mais outros tantos “atos democráticos”.

O ápice, como toda boa viúva recorda, foi o AI-5. A história do Brasil não há de esquecer do dia 13. Seja pela superstição, seja pelo 13 de dezembro de 1968.

Quem fala na – ou pede a – volta dos militares só pode ser por não conhecer o que foi o AI-5 na vida do Brasil.

Verdade seja dita: o golpe que eles deram nada mais foi do que seguir o embalo da história de um país golpista. A ditadura nem tanto. Deixaram Getúlio no chinelo.

Não há culpados por 64. A esquerda fez bobagem? Fez. A direta também? Também.

Hoje vivemos um período de expiação. Expiação de uns poucos, a bem da verdade. Dos poucos que restam da época.

E aí temos o grande problema: enquanto os velhos ficam brigando pelo passado, a “gente nova” não tá nem aí pra 64. A maioria, por sinal, sequer sabe o mínimo sobre. E não quer nem saber.

Eles só veem uma coisa: velhos discutindo que insistem em não dar espaço para que eles assumam o país.

Sem revolução, sem golpes e sem ditadura.

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyO ChatoREVOLUÇÃO: derrubada de um governo, eleito ou não, com ou sem uso de força militar, institucional ou não. Participação intensa do povo. GOLPE: derrubada de um governo eleito com uso de força militar institucional. Toda e qualquer troca de governo que não se dê pelo voto ou pelos mecanismos previstos...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!