VI – I – III EL

Sexto dia do Primeiro Ano da Terceira Era Lula

Cícero, Consul romano e filósofo
Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?
Quam diu etiam furor iste tuus eludet?
Quem ad finem sese effrenata iactabit audacia?
Nihilne te nocturnum praesidium Palatii,
nihil urbis vigiliae,
nihil timor populi,
nihil concursus bonorum omnium,
nihil hic munitissimus habendi senatus locus,
nihil horum ora vultusque moverunt?

Patere tua concilia non sentis?
Constrictam omnium horum scientia teneri coniurationem tuam non vides?
Quid proxima, quid superiore nocte egeris, ubi fueris, quos convocaveris, quid consilii ceperis, quem nostrum ignorare arbitraris?
O tempora, o mores!
(1)

Limite. Palavra que contém em si conceitos complexos. Da matemática à sociologia, passando pelo individual.

Há um sentido, tido por figurado, que é a marca a partir da qual não se pode continuar, que é, a meu ver, o mais completo.

Marca, por exemplo, o limite físico a partir do qual não podemos mais continuar a praticar exercícios, correr ou levantar pesos. Marca, também, até onde podemos ir com a liberdade: nossa liberdade termina onde começa a de outrem. Limite é como chamamos, também, a educação. Educar é mostrar os limites sociais, familiares e individuais a que todos estamos sujeitos pela vida toda.

E deveria marcar o limite da atuação das pessoas que exercem funções públicas, prefeitos e governadores, principalmente. Limite a que todos quantos exercem atividades públicas – e, sim, prefeitos e governadores são servidores públicos – estão sujeitos. E esses limites estão claramente estabelecidos nos princípios da nossa Carta Magna, além do simples cumprimemento de leis.

Atos administrativos podem estar de acordo com a lei que os autoriza, o que não significa que devam ser editados ou que sejam transformados em fatos. Mormente quando a quantidade de atos administrativos acabam por se transformar em fatos que atingem uma cidade, ou estado, nos quais a imensa maioria não votou nos prefeitos ou no governador, seja por ter votado em outros candidatos seja por anularem os votos ou votarem em branco, seja por não comparecerem à votação.

Há um limite moral ao qual prefeitos e governadores deveriam estar submetidos, que é o de não pensar que seus planos foram alçados à categoria de “plenos de graça”. Há uma coletividade a ser respeitada e a coletividade, em muitas cidades e estados, não está sendo respeitada.

Pequenos coletivos até podem estar merecendo a plena atenção dos executivos, mas que fique claro: a imensa maioria não. E por isso sentem-se como que reinando, aplaudidos que são por essa pequena claque.

E saem por aí “vendendo” tudo: parques, empresas e até calçadas. Permitem o uso de monumentos tombados para propaganda de clubes esportivos privados e, na maior demonstração de que se pensam ungidos por Deus, tal qual reis o eram na Idade Média, não medem esforços para privatizar (conceder) os maiores e mais tradicionais bens do povo.

Alegam, hipocritamente, que não têm condições de bancar a manutenção. Mais, afirmam que são “deficitários”, em um claro uso de expressão tão cara à iniciativa privada, mas completamente inadequada à prestação de serviços públicos.

Abusam da paciência do povo.

Chegada é hora de impormos limites a essas desenfreadas audácias dos nossos governantes.

(1) In Catilinam Orationes Quattuor – Catilinárias, Cícero.

Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?
Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós?
A que extremos se há de precipitar a tua desenfreada audácia?
Nem a guarda do Palatino,
nem a ronda noturna da cidade,
nem o temor do povo,
nem a afluência de todos os homens de bem,
nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado,
nem a expressão do voto destas pessoas, nada disto conseguiu perturbar-te?
Não te dás conta que os teus planos foram descobertos?
Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem?
Quem, dentre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, onde estiveste, com quem te encontraste, que decisão tomaste?
Oh tempos, oh costumes!

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