hipocrisia

Aviso: generalizações são utilizadas no texto. Quem julgar que não se enquadra, ótimo.

Que Reinaldo Azevedo (“escravos”), Eliane Cantanhêde (“avião negreiro”) e Augusto Nunes (“princesa Isabel às avessas”) sejam incitadores de crime (art. 286 CP), até aí parece que já estamos acostumados.

O que não estamos acostumados é com o preconceito, com a xeno(homo)fobia, ou com o racismo. Afinal, somos um país pardo e respeitador dos direitos humanos, por excelência.

Há quem esteja preocupado, nesse momento, em não ser identificado como classe méd(i)ca. Ops! Classe média. Até aí, parece que estamos acostumados.

Alguns alegam que são casos isolados. Santa Hipocrisia! O comportamento é sempre o mesmo, o que varia é a desculpa.

A jornalista Micheline Borges, depois de publicar no Facebook que as “médicas cubanas tem uma Cara de empregada doméstica”, aplicou o velho golpe do “não me entenderam!”, ou foi uma brincadeira”, ou, pior ainda, “estou arrependida”.
Para o site G1, Micheline “pediu desculpas” e “afirmou ter sido “mal interpretada”. Disse, ainda, que:

“Foi um comentário infeliz, só gostaria de pedir desculpas, fiquei muito angustiada. Ganhou uma proporção muito grande nas redes sociais, onde as pessoas interpretam do jeito que querem. Não tenho preconceito com ninguém, não quis atingir ninguém, nem ferir a imagem nem a profissão de ninguém.”

A velha face nada oculta da classe média brasileira: faz e depois sai pela tangente. Não importa o estrago feito. Mesmo porque, sequer imaginam que possam causar estragos.

Só que antes de se “desculpar” no G1, ela insistiu, ainda no Facebook:

“Gente, eu penso assim. Me perdoem se vocês não pensam igual a mim. Paciência… Kkkkkkkkk A aparência conta sim! Se eu chegar numa consulta e encontrar um médico com cara de acabado ou num escritório de advocacia um advogado mal vestido eu vou embora. O mesmo acontece em um restaurante. Vc primeiro come com os olhos para depois comer com a boca. a aparência do prato é tudo!”

“Gente, eu penso assim”. A classe média “pensa assim”. Faz, pede desculpa, mas pensa assim.

Junte-se a essa calda, a manifestação de Cintia Oliveira:

“TOMARA que apareçam médicos e médicas CUBANOS mortos por aí. Chega de palhaçada com o nosso dinheiro! Pagamos impostos caríssimos e que devem ser investidos em NOSSO PAÍS e em NOSSOS MÉDICOS! E não para financiar CUBA!”

Notem o quanto essa moça está influenciada pela mídia dos três mosqueteiros acima: o que importa é não financiar Cuba. Ao menos ela é coerente nesse trecho: para a classe média, os brasileiros podem morrer na miséria e sem atendimento médico, só não podemos financiar os comunistas de Cuba.

Alguns alegarão que se trata de um caso isolado. Santa Hipocrisia! O comportamento é sempre o mesmo, o que varia será a desculpa que essa moça vai dar.

Somos um país por demais católico. Acreditamos que pedir perdão pelos pecados sempre salvará a nossa alma. Fomos criados para pedir perdão e não para não cometer pecados. “Eu penso assim. Me perdoem se vocês não pensam igual a mim”.

Pisamos, humilhamos e deixamos morrer. “Comemos com os olhos”. Não importa! Vamos à missa aos domingos e obtemos o perdão. Essa é a cultura da desculpa!

Essa é a face nada oculta da nossa classe média: resolve tudo pedindo desculpa!

O Brasil é um país tardio, mas há de chegar o dia em que essa classe média hipócrita se encontrará, face a face, consigo mesma. E, entre si, não terão mais desculpas para dar!

Mas há um que não dá desculpas. É ele quem nos mostra a face nada oculta da nossa classe médi(c)a: o médico cubano, Juan Delgado, achincalhado em Fortaleza:

“Seremos escravos da saúde, dos pacientes doentes, de quem estaremos a lado todo o tempo necessário. Os médicos brasileiros deveriam fazer o mesmo que nós: ir aos lugares mais pobres prestar assistência”.

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyCidadaniaClasse MédiaO ChatoPIGUncategorizedAviso: generalizações são utilizadas no texto. Quem julgar que não se enquadra, ótimo. Que Reinaldo Azevedo (“escravos”), Eliane Cantanhêde (“avião negreiro”) e Augusto Nunes (“princesa Isabel às avessas”) sejam incitadores de crime (art. 286 CP), até aí parece que já estamos acostumados. O que não estamos acostumados é com o preconceito, com...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!