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Confessarei, aqui em público, um crime.

Enquanto esperávamos o início da primeira sessão do “Frozen – Uma Aventura Congelante”, não recordo por qual razão da conversa, mas em determinado ponto a #Condessa fez uma referência que tive que responder dizendo que quando tinha a idade dela, oito anos, não existia computador.

Imediatamente ela diz: mas papai, como tu pode ter passado sem a coisa mais maravilhosa do mundo?

Faltava meia hora para começar o filme, o que me deu tempo de sobra para ficar pensando no assunto. Confessarei, aqui em público, um crime. Uma quase tentativa de um crime hediondo. Uma vontade imensa de contar como era a infância antes do computador.

Mas sou um pai zeloso e me contive. Não poderia, naquele momento, dizer o quanto ela perdia por ter computador e por viver nos dias de hoje. Pensei até em dizer que eu é que tive a coisa mais maravilhosa do mundo: brincava na rua, subia em árvores, soltava pandorga, fazia meus próprios brinquedos… Em questão de segundos revi toda a minha infância sem a “coisa mais maravilhosa do mundo”! Sim, teria cometido um crime ao contar para ela.

Nos 29 minutos restantes fechei os olhos e fiquei pensando, eventualmente interrompido pelos “papos” que ela puxava ou pelas crianças que estavam por perto, quatro, e que gritavam que tinham que limpar os cocôs do POU, porque se passasse dos 50 ele morreria. Tudo isso, claro, nos celulares das mães, essas incompetentes que sequer cuidavam dos bichinhos eletrônicos dos filhos.

#Condessa tem computador desde os cinco anos e usa tablet desde os sete. É absolutamente independente no manejo da coisa mais… Só me faz perguntas quando tem alguma palavra mais difícil em inglês. Graças ao computador (e à televisão) canta em inglês e em espanhol com uma pronúncia impecável para a idade.

Mas tem uma coisa que ela não sabe fazer: subir em árvores e soltar pandorga. Maldito filme que não começa nunca! E essa vontade de contar a verdade pra ela…

A sessão começa com uma animação da Disney. Das coisas mais geniais que já vi. Uma junção do Mickey em preto e branco, lá dos primórdios, com o 3D. Quando o Mickey em preto e branco salta da tela e vira um 3D colorido que quase cai no meu colo, comecei a repensar o crime que sentia vontade de cometer.

Ao terminar o filme, me senti “empatado”. Subir em árvores e soltar pandorga só era a coisa mais maravilhosa do mundo porque era a coisa que eu tinha. Não há razão para que eu queira que ela sinta “vontade” por algo que era apenas do meu tempo. Lembrei que quem criou essa coisa mais maravilhosa dela foi a minha geração. E lembrei que em certa medida avancei em relação aos meus pais, pois sequer televisão eu podia ver (lembram do “está na hora de dormir, não esperem mamãe mandar…”).

Se eu avancei em relação aos meus pais, porque minha filha não pode avançar também?

Ah! Essa “coisa mais maravilhosa do mundo” …

(um parênteses final: Frozen é surpreendentemente ótimo. Na técnica, nas mensagens que passa e no final inesperado!)

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyO ChatoConfessarei, aqui em público, um crime. Enquanto esperávamos o início da primeira sessão do 'Frozen - Uma Aventura Congelante', não recordo por qual razão da conversa, mas em determinado ponto a #Condessa fez uma referência que tive que responder dizendo que quando tinha a idade dela, oito anos, não existia...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!