Governador do Rio de Janeiro sancionou lei que já está sendo conhecida como “Lei da Moral e dos Bons Costumes”. Trata-se, na verdade, de uma lei que institui um programa, o “PROGRAMA DE RESGATE DE VALORES MORAIS, SOCIAIS, ÉTICOS E ESPIRITUAIS” NO AMBITO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.”

Vejamos o que diz a deputada Myrian Rios, autora do projeto, nas suas “justificativas”:

“Infelizmente, a sociedade de uma maneira geral vem cada dia mais se desvencilhando dos valores morais, sociais, éticos e espirituais. Valores esses que são de extrema importância para que nossa sociedade caminhe para o crescimento.

Sem esse tipo de valor, tudo é permitido, se perde o conceito do bom e ruim, do certo e errado. Perde-se o critério do que se pode e deve fazer ou o que não se pode. Estamos vivendo em um mundo onde o egoísmo e a ganância são predominante.

Na busca de um mundo melhor o programa, descrito nesse projeto, objetiva formular proposta de ações educativas e sugestivas, direcionadas a criança, jovens e adultos despertando uma grande mudança na sociedade fluminense.

Diante dessa realidade, a criação do programa supracitado, que tem como objetivo principal conscientizar e reinserir valores de suma importância para que possamos construir um futuro melhor, onde haja principalmente respeito pelo próximo.”

Primeiro erro, a meu ver, já está no diagnóstico. Dizer que a sociedade está se desvencilhando de algo que sequer ela define o que seja não é uma boa técnica para começar um justificativa. A quais valores “morais, sociais, éticos e espirituais” a deputada se refere? Aos dela? Aos de algum grupo de pessoas do qual ela faça parte? Aos da Igreja Católica? À moral e ao civsmo dos tempos da ditadura civil-militar de 64?

Tais valores, cara deputada, são, por definição, variáveis no tempo e no espaço. São dinâmicos, posto que a sociedade que os estabelece também é, por natureza, dinâmica. E caminha “para o crescimento”, com os valores que ela tão somente transforma, adaptando aos contextos.

Segundo erro, é julgar que as pessoas “perdem o conceito do bom e ruim, do certo e errado”. Se hoje existe um certo “alargamento” na interpretação desses conceitos, devemos muito mais a uma mídia que faz questão de criar essa sensação. basta ver noticiários e novelas. Mas esquece, a deputada, que o povo continua sendo um povo de boa índole. As grandíssima maioria das pessoas segue levando a vida de forma boa e honesta; seguem não sendo “egoístas e gananciosas”. Erra a deputada ao afirmar que esses valores são “predominantes”. Falta-lhe ver menos TV e observar mais o dia a dia das pessoas.

O que entende a deputada por “reinserir valores de suma importância”? Imagino, novamente, que ela deva estar pensando nos valores que ela e sua religião praticam. Serão valores, como por exemplo, ser contra a união homoafetiva; ser a favor da morte de milhares de mulheres que não podem praticar o aborto assistido; preservar o sofrimento de crianças anencéfalas – e de seus pais – tão somente para que morram dali a poucas semanas? E tantos outros “valores”…

Conhecemos bem a quais valores está a se referir a deputada. E muitos deles a sociedade já deu mostras suficientes de que não os quer mais. Inclusive o maior deles: a hipocrisia. Sim, porque não passa de hipocrisia um programa desse gênero que, no mais, já é parte dos currículos escolares, das regras de convivência nas organizações, nas leis já existentes.

Não será um programa como esse – fadado a ser mais uma letra morta, dada a sua generalidade – que irá ajudar a sociedade brasileira a deixar de ser “ruim” (aparentemente é isso que ela pensa de nós) para se tornar uma sociedade “melhor” (“um mundo melhor”).

AOS COSTUMES! Deputada!

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyHypocrisisMyrian RiosGovernador do Rio de Janeiro sancionou lei que já está sendo conhecida como 'Lei da Moral e dos Bons Costumes'. Trata-se, na verdade, de uma lei que institui um programa, o 'PROGRAMA DE RESGATE DE VALORES MORAIS, SOCIAIS, ÉTICOS E ESPIRITUAIS” NO AMBITO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.'...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!