Eduardo Leite, segundo a visão aceita atualmente, nasceu gay; Bolsonaro, segundo a mesma visão, nasceu homofóbico (*). Incompatíveis, por natureza e por nascença.

O que explica, então, que Eduardo Leite tenha não só tenha votado em Bolsonaro, como se utilizado dele para a própria campanha para o Governo do Rio Grande do Sul?(**)

Poderíamos usar o fato de que, à época, Eduardo Leite não havia se assumido homossexual, embora fosse do conhecimento de todos os gaúchos – ou, no mínimo, da desconfiança, o que lhe teria permitido cometer, na sua própria imaginação um pequeno deslize de caráter.

Esse “pequeno desvio” é ato comum nas pessoas: imaginar que a atuação na vida é feita de caminhos irremediavelmente incomunicáveis e que, portanto, nos colocam a salvo de tudo: o eu intimo, o eu pessoal, o eu social, o eu político, o eu estudante, o eu trabalhador, o eu marido, o eu amante… Enfim, todas as esferas de manifestações que temos na vida.

A vida não passa, na realidade, de um constante trocar de máscaras que fazem de conta não se conhecerem, apesar de habitarem o mesmo ser.

A pessoa que sempre considerei como uma segunda mãe, uruguaia de origem, me dizia um ditado de uso comum no Uruguay: “cada uno hace de su culo un parque hotel”, como a dizer que não temos nada a ver com a vida dos outros. Viva estivesse, com certeza complementaria: desde que não faça mal aos outros.

Pois Eduardo Leite fez mal a outros. Se não diretamente, o fez ao ajudar a eleger Bolsonaro, o Ignóbil.

Pior, conhecedor que era do seu eu intimo, mesmo assim o fez. Pecou duas vezes: contra si e contra o povo.

Pode até ser bom gestor da coisa pública. E o é, afinal de contas, dentro da sua ideologia. Tem todas as premissas de um bom gestor: é honesto, suas políticas estão, a bem da verdade, começando a recuperar o RS e fez, ao ver da imensa maioria do povo gaúcho, uma excelente condução da pandemia, dentre outras coisas.

Mas terá que fazer um esforço hercúleo para mostrar que a falha de caráter foi corrigida se quiser permanecer na trilha política, seja como candidato à presidência, ao senado ou, mesmo, a um segundo mandato no Piratini.

Terá que fazer um esforço hercúleo para superar a imagem de oportunista. Seja pelo apoio ao Bolsonaro, seja por criar fato novo que o conduz ao “estrelato” nacional.

E até nisso parece que não se separou de Bolsonaro. Bolsonaro bosteja diariamente para que os holofotes sigam sobre ele; Eduardo Leite parece começar a fazer o mesmo.

Ou terá sido uma imposição do parceiro, tipo “ou me assumes ou termino contigo”?

Vá saber…

(*) Na fala de gênero, não existe “opção”, “orientação”, simplesmente nascemos. O quando é outra questão. Asssim, também não há que falar, ou não deveria haver, em ser educado como “homofóbico”. As pessoas nascem homofóbicas. Ou não? Será a homofobia um produto cultural, uma “opção”?

(**) Atualização. Em recente entrevista, 03/07, divulgada no Brasil247, Eduardo Leite “se” explica: https://www.brasil247.com/regionais/sul/leite-admite-ter-errado-ao-declarar-voto-em-bolsonaro-em-2018-e-ataca-o-pt

https://www.escosteguy.net/wp-content/uploads/2021/07/Eduardo-Leite-e-Bolsonaro-683x1024.jpghttps://www.escosteguy.net/wp-content/uploads/2021/07/Eduardo-Leite-e-Bolsonaro-150x150.jpgLuiz Afonso Alencastre EscosteguyO ChatoEduardo Leite, segundo a visão aceita atualmente, nasceu gay; Bolsonaro, segundo a mesma visão, nasceu homofóbico (*). Incompatíveis, por natureza e por nascença. O que explica, então, que Eduardo Leite tenha não só tenha votado em Bolsonaro, como se utilizado dele para a própria campanha para o Governo do Rio...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!