Dito de uma forma não especializada, mitos surgem como fenômenos sociais (cultura) para dar respostas à incapacidade que as pessoas têm em resolver os problemas que vivem. Em geral, os são a idealização de alguma época ou de pessoas (adotadas como deuses), tornadas exemplos (heróis) a serem copiados.

É o que o temos visto atualmente em torno dos “militares”. Na incapacidade de entender, ou explicar, a realidade brasileira atual, vemos muitos dizendo: “saudades dos militares”, “bom mesmo era no tempo dos milicos”, “naquele tempo não tinha essa bagunça que há hoje”, e por aí vai.

Cria-se, assim, o mito moderno dos heróis militares, aqueles que serão capazes de nos reconduzir aos “bons tempos”, resolvendo todos os nossos males. E, como todo mito, as “falhas” são esquecidas ou até perdoadas, como se os próprios deuses tivessem aprendido a não mais as cometerem.

Por conta de uma orquestrada campanha da mídia dominante, os atuais problemas do Brasil se resumem à corrupção, a uma tentativa de imputar ao governo um fracasso na condução da economia e aos programas sociais, tipo bolsa família.

Corrupção não havia na ditadura civil-militar de 64; a economia esteve em franca expansão e, com isso, o governo não precisava de programas sociais, pois o bolo cresceu e foi igualmente dividido entre todos os brasileiros.

As pessoas, por mal informadas que andam, não conseguem entender que tudo não tem passado de campanha política para 2014 e da exacerbação de um ódio natural que a direita conservadora neoliberal (e a ultraconservadora) nutre desde 2003 contra o predomínio da esquerda. E, ante a impotência de seus representantes políticos em apresentarem soluções minimamente plausíveis que o que consideram ser os problemas, apelam para os mitos.

Os mitos cumprem, ainda, uma segunda função: evitam a necessidade de pensar. Eles já vêm prontos para uso, sequer da adição de água necessitam. Assim, dar-se ao trabalho de ler boas fontes de informação; dar-se ao trabalho de analisar, sopesar, ponderar, pesquisar e tantos outros cansativos verbos, são prontamente evitados pelo uso dos mitos.

E é justamente por essa preguiça mental das pessoas que estão ocorrendo dois fenômenos muito, mas muito mais perigosos do que a criação de mitos: no vácuo do mito militar está crescendo o fundamentalismo, predominantemente o religioso, e o esfacelamento do pensamento e da ação da esquerda, um dia unida não apenas na ideologia, mas nos propósitos e ações.

Há toda uma juventude (e jovens adultos) abandonada em troca do pragmatismo. É essa importante parcela da sociedade que vem sendo cooptada pelo mito dos militares e pelos fundamentalistas.

Como diz Frank Herbert, no livro As Herdeiras de Duna, “as regras constroem fortificações atrás das quais as mentes pequenas criam satrapias. Um perigoso estado de coisas nos melhores tempos, desastroso durante as crises”.

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyBrasil Sem PIGPIG Dito de uma forma não especializada, mitos surgem como fenômenos sociais (cultura) para dar respostas à incapacidade que as pessoas têm em resolver os problemas que vivem. Em geral, os são a idealização de alguma época ou de pessoas (adotadas como deuses), tornadas exemplos (heróis) a serem copiados. É o...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!