LVII – I – III EL

Quinquagésimo Sétimo Dia do Primeiro Ano da Terceira Era Lula

Oito. Questão de respeito. Simples assim.

Mas não parece ser. Oito de março é o Dia Internacional da Mulher. Os seres mais desrespeitados que habitam esse planeta. Não sei como é nos demais, mas nesse chamado Terra são.

Estatísticas (aqui) de 2022 apontam que apenas no primeiro semestre do ano 699 mulheres foram assassinadas; em 2021, 1341. Ainda 2021, mais de 66 mil mulheres foram vítimas de estupro; mais de 230 mil brasileiras sofreram agressões físicas por violência domés­tica.

No mundo, 81,1 mil mulheres foram assassinadas. Desse total, 56% foram mortas pelos marido, parceiro ou outro membro da família, segundo a ONU (aqui). O Brasil, como já amplamente divulgado, ocupa o 5º no mundo no número de feminicídios.

E o feminicídio tem cor, classe e uma ação deliberada do governo. O relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (link citado) traz um alerta:


“Apesar do crescimento ininterrupto da violência letal contra a mulher no período, os recursos investidos pelo Governo Federal para o enfrentamento à violência têm reduzido drasticamente. Nota técnica
produzida pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) mostrou que em 2022 ocorreu a menor alocação orçamentária da gestão Bolsonaro2 para o enfrentamento da violência contra mulheres, com
pouco mais de R$5 milhões para esta rubrica e cerca de R$8,6 milhões destinados a Casa da Mulher Brasileira.
“A redução dos valores destinados às políticas públicas deenfrentamento à violência contra a mulher ocorreu em meio a uma mudança substancial de rota por parte do Governo Federal em relação
a compreensão do fenômeno, que priorizou uma visão familista ao criar o Ministério da Família e dos Direitos Humanos e o esvaziamento total da compreensão de gênero como eixo orientador das políticas
públicas.
Neste sentido, um dos principais desafios ao novo governo eleito parece ser restabelecer o entendimento da desigualdade de gênero e poder como elementos centrais para compreensão das
violências sofridas por meninas e mulheres, cis, trans e travestis. Como afirma a promotora Valeria Scarance em análise sobre a lei Maria da Penha, a abrangência do termo mulher na legislação não se
restringe ao conceito biológico, mas jurídico, o que inclui a pessoa com identidade de gênero de mulher. Assim, juridicamente mulher é a pessoa que tem essa identidade de gênero, independentemente do
órgão sexual (SCARANCE, 2022, pg. 212), o que foi terminantemente ignorado pela atual gestão do Governo Federal.”
(entenda-se: governo Bolsonaro) (negrito meu).

Raio-x dos feminicídios em 2021

Na produção do Anuário Brasileiro de Segurança Pública a equipe do FBSP coleta todos os boletins de ocorrência de feminicídio e outras mortes violentas de mulheres, o que permite analisar o perfil das vítimas e dos autores, bem como características específicas destas ocorrências.

Em relação ao perfil etário, 68,7% das vítimas de feminicídio tinham entre 18 e 44 anos quando foram mortas. 16% delas tinham entre 18 e 24 anos, 12,3% entre 25 e 29 anos, 14,4% entre 30 e 34 anos, 15,2% entre 35 e 39 anos, e 10,8% entre 40 e 44 anos.

O perfil étnico racial indica a prevalência de mulheres pretas e pardas entre as vítimas: 62% eram negras, 37,5% brancas, 0,3% amarelas e 0,2% indígenas.

Sobre o vínculo com o autor da ocorrência, 81,7% das vítimas foram mortas pelo parceiro ou ex-parceiro íntimo. Desconhecidos apareceram como autores apenas em 3,8% dos casos, indicando que a maioria dos casos identificados pelas autoridades policiais são os feminicídios íntimos.

O local do crime é importante para compreendermos o contexto da morte violenta. Nos casos de feminicídios, 65,6% das vítimas morreram em sua residência. Em 50% dos assassinatos o
instrumento utilizado foi arma branca.


81,7 % dos casos cometidos pelo parceiro ou ex-parceiro.

Isso é o resultado do sistema educacional, cultural e religioso falido que temos no Brasil. Somado, como visto, a ações deliberadas do governo Bolsonaro. Uma cultura machista, em um sistema educacional que valoriza o homem cisgênero como o senhor absoluto da Terra e sistemas religiosos que reforçam todo o tipo de comportamento submisso das mulheres, acabam por suprimir o importante conceito de respeito.

Aprendemos a não respeitar praticamente quase tudo: não respeitamos a natureza, não respeitamos os animais não humanos, não respeitamos humanos de outras raças e etnias e não respeitamos gênero.

A rede que mantém coesa uma sociedade é feita por fios de respeito. O que liga os nós dessa rede que forma a sociedade é o respeito. E respeitar, não preciso dizer, é reconhecer o outro ser como tendo dignidade própria, merecedor da vida pelo simples fato de existir.

Não aprendemos mais isso nas escolas; não aprendemos mais isso nas igrejas e templos. Não aprendemos mais isso em casa. E os números estão a mostrar que isso é uma realiadade incontestável.

Perdemos o respeito por nós mesmos.

Me soa hiocrisia dizer “feliz dia das mulheres”.

https://www.escosteguy.net/wp-content/uploads/2023/03/oito.jpghttps://www.escosteguy.net/wp-content/uploads/2023/03/oito-150x150.jpgLuiz Afonso Alencastre EscosteguyO ChatoDia Internacional da Mulher,Feminicídio,Gênero,Mulheres,Violência contra a mulherLVII - I - III EL Quinquagésimo Sétimo Dia do Primeiro Ano da Terceira Era Lula Oito. Questão de respeito. Simples assim. Mas não parece ser. Oito de março é o Dia Internacional da Mulher. Os seres mais desrespeitados que habitam esse planeta. Não sei como é nos demais, mas nesse chamado...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!