Carlos+Zefiro

Tenho lembrança desse fato ter ocorrido lá pelos idos da juventude. Na verdade, não sei bem, pois a essa altura da vida o tempo começa a ficar confuso, tudo é distante.

É a história de um padre que pensou estar me castigando ao me entregar para o meu pai.

Estudava em um colégio de padres, o mais tradicional da cidade. E não poderia ser outro, pois era filho do comandante da guarnição militar da cidade. Coisa importante que fazia de mim um aluno especial.

Ao menos esperavam que eu fosse um aluno especial. Ledo engano. O salvo-conduto de ser filho da autoridade da cidade fez de mim um verdadeiro diabo.

Dentro do colégio havia uma capela onde o padre rezava, todo os domingos, a missa. Não, padres não rezam missa, eles dizem a missa, né? Não? Ah, faz tanto tempo que não vou a uma que nem sei mais como se chama o que os padres fazem nas missas.

Enfim, éramos obrigados a comparecer. Os pais iam à missa da Matriz, nós a da capela.

Pois num desses belos domingos, fui castigado, quem diria, por ser pego lendo o catecismo. Catecismos, para quem não lembra ou não sabe, eram aquelas revistinhas de sexo, desenhadas por um tal Carlos Zéfiro.

Isso mesmo. Durante a missa, saímos sorrateiramente e fomos nos esconder atrás de uma árvore que havia ao lado da capela. Coisa de criança, claro, imaginar que o padre não daria falta de nós e, pior ainda, se esconder tão bem escondido, ao lado da capela.

Pois não é que o padre parou a missa e foi buscar os atentos leitores do catecismo? E qual a surpresa dele ao encontrar o filho do comandante em meio aos desajustados alunos do colégio?

Confiscadas as revistinhas, digo, os catecismos, fomos conduzidos de volta para a capela. Não sem antes receber as mais severas reprimendas. A mim, em especial, por ser um aluno especial.

Terminada a missa, o padre me acompanhou até em casa, pois queria fazer o que hoje chamamos de delação premiada. Deve ter imaginado que cairia nas graças do comandante por entregar o filho em descaminho moral. Quem sabe assim, conseguiria a ajuda do quartel para alguma obrinha necessária na escola.

A cena da conversa, que não vou reproduzir por respeito aos mortos, soou aos meus ouvidos de criança como uma benção vinda do céu. Mas dá para imaginar o que um padre e um milico conversavam diante de tamanha falta.

O castigo foi poderoso. Tão poderoso que faz efeito até hoje. Fui proibido de frequentar a missa da capela por dois meses.

Por conta própria, aumentei o castigo e nunca mais fui a uma missa.

O que o padre e o papai não sabiam, ainda, é que eu também fugia para ir na zona…

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyO ChatoTenho lembrança desse fato ter ocorrido lá pelos idos da juventude. Na verdade, não sei bem, pois a essa altura da vida o tempo começa a ficar confuso, tudo é distante. É a história de um padre que pensou estar me castigando ao me entregar para o meu pai. Estudava em...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!