alface

Como quase nada mais me surpreende nesse mundo, não me abalei muito quando a pequena alface, plantada pela Condessa semanas atrás, resolveu falar comigo enquanto a regava.

– Afonso?

– Oi?

– Queria te fazer um elogio.

– Pra mim? Mas eu apenas te rego, não faço nada de mais.

– Não é por isso, é porque és carnívoro, do bem, entendes?

– Como assim? Mas antes de me responder e se vamos conversar, como é que te chamo? Alface?

– Olha, temos nomes, mas usa um humano que vai ficar mais fácil pra ti. Pode ser Maria Eduarda.

– Boa escolha, gosto desse nome.

– Sabemos, por isso escolhi.

– Tá, Maria Eduarda, segue me explicando…

– Eu sei que não gostas de verduras e tenho observado que andas ensinando a Condessa a cozinhar. Todos os pratos são de carne. Isso pra nós, vegetais, é muito importante.

– Por quê?

– Porque essa gente que não come carne nos maltrata. Só porque não fazemos muuu ou outro barulho qualquer, pensam que podem nos comer sem problemas. Tu não, tu nos considera e não nos come. E o elogio é justamente por estares ensinando a tua filha a não nos comer.

– Mas sabes que a briga aqui em casa é feia, pois a mãe dela não abre mão de uma salada. Inclusive anda ameaçando parar de comer carne.

– É, sei disso. E a nossa salvação está em continuares a fazer essas delícias com carne que sempre fazes.

– Obrigado, Maria Eduarda.

– E outra coisa: podes até saber cozinhar, mas não sabes regar. Chega de água!!!

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyAventuras na CozinhaComo quase nada mais me surpreende nesse mundo, não me abalei muito quando a pequena alface, plantada pela Condessa semanas atrás, resolveu falar comigo enquanto a regava. - Afonso? - Oi? - Queria te fazer um elogio. - Pra mim? Mas eu apenas te rego, não faço nada de mais. - Não é por...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!