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Mujica, presidente do cisplatino Uruguay, nos deu, durante seu governo, um exemplo de limite: o limite de que é possível ser presidente de um país sem que seja necessária a ostentação. Seguiu morando em seu sítio e andando com seu fusquinha. Até mesmo em atos de representação internacional do seu pais era conhecido por sua simplicidade no trajar e no estar acompanhado de pouca gente. E por simplicidade devemos entender apenas o oposto à exibição de trajes, sapatos e gravatas de grife.

Existe, no entanto, limite oposto. É o limite dos que julgam ser direito seu ostentar tudo quanto o cargo que ocupam pode lhes proporcionar.

Notícia divulgada no jornal Zero Hora (aqui) mostra a relação dos itens que serão comprados para o “Palácio das Hortênsias” – residência oficial do governo do Estado na cidade de Canela, Serra Gaúcha.

Talvez o governador possa alegar que desconhece tal compra e que, em lá chegando, simplesmente pense que “é assim!”. Com certeza não vai parar para questionar a necessidade de lençóis de cetim (não deveria fazer isso, mas vou: avisem aos servidores do governo que cetim é com “c” e não com “s”, por favor). Ou, menos ainda, por que conjuntos de três panos de copa que custam R$ 55,00 cada (eu compro três por R$ 10,00 no Mercado Público e duram bastante…). Ou, ainda, travesseiros de pluma.

Sem falar, é claro, da exorbitância dos itens “roupão”. Com certeza os preocupados servidores perceberam que o porte do novo governador e de sua esposa diferem, em muito, do porte do anterior governador. Logo, necessário comprar novos roupões. E, claro, em cor rosa para a primeira dama, que deverá usar um a cada dia, pois não se imagina o que possa ser feito, diferente, com quatro iguais.

Eis os meios entre os limites: a ostentação em nossa sociedade simplesmente é!

Aceitamos como natural que “autoridades” devam receber tratamento diferenciado e, claro, o melhor que for possível. Possível até para que possa ser enquadrado em valores para dispensa de licitação. Afinal, nossos preocupados servidores devem ter imaginado que publicar um edital de licitação para compra desses itens chamaria muita atenção.

E não pegaria bem para um governo que começa dizendo que não tem dinheiro, cortando verbas da saúde, da segurança, dos bombeiros, do pagamento dos salários dos servidores…

Os meios que faltam entre os limites são justamente os meios de uma nova consciência ética dos governantes.

É necessário abastecer uma casa, um “Palácio” (sem sequer entrar no questionamento de ser ou não necessário um “palácio” em Canela)? Sim, é. Mas será que não existem outras formas de fazer isso?

Não precisamos, talvez ainda, chegar nos limites de Mujica, mas o que ele fez foi justamente mostrar que “outra ética é possível” no exercer “autoridade”.

A começar por perceber a diferença entre exercer a autoridade e ser autoridade.

Pense nisso, governador…

(imagem: print da notícia)

(aditivo: após repercussão negativa, o governo publicou note negando autorização para a compra e seu cancelamento: aqui)

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyO ChatoMujica, presidente do cisplatino Uruguay, nos deu, durante seu governo, um exemplo de limite: o limite de que é possível ser presidente de um país sem que seja necessária a ostentação. Seguiu morando em seu sítio e andando com seu fusquinha. Até mesmo em atos de representação internacional do...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!