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Tenho cá minhas razões para não votar na Dilma. Mas como tenho outras milhares para votar, fico tranquilo em apresentar razões pelas quais alguém, pensando séria e honestamente – e não esse papo da mídia oligárquica-, poderia querer não votar nela.

1. Minha esposa gosta da Dilma e diz que até votaria nela. O problema está no “até” e não na Dilma. Até votaria, caso ela não fosse do PT.

Não é por ser casada comigo, o que por si só já demonstra uma excepcional inteligência, mas ela percebe algo que muitos percebem: o PT dá mostras de algo que em mecânica dos materiais chama-se “fadiga”.

Brincadeiras à parte, ou o PT se renova para a sociedade ou a renovação da sociedade acaba com o PT.

É um fenômeno que tem atingido a todos os partidos: fecham-se em copas e não acompanham a renovação da sociedade. Perderam a sensibilidade e o PT segue no mesmo caminho.

A vida real nos mostra um governo que definitivamente mudou esse país, mas está se tornando um governo sem partido e isso não é bom.  E não é bom porque quem conquista corações e mentes é a ideologia e não apenas a economia.

As pessoas, uma vez trazidas à cidadania, certamente exigirão mais, como de fato já está acontecendo. e o PT não está acompanhando. E vai levar Dilma junto. Dilma passa a impressão de não ter grandes influências sobre o partido (concordo, em um partido que tem Lula, deve ser realmente muito difícil ter influência…)

2. Dilma não teve coragem de passar para a história como a presidenta que fez a lei de meios. É quase imperdoável, não fora a esperança de que no segundo mandato o faça.

É inaceitável que ainda convivamos com a mídia oligárquica dominando o país e sendo a real oposição. Ou, como eles gostam de pensar, o quarto poder.

Pode até ter sido uma opção estratégica o não enfrentamento da questão, pensando que é melhor para o país gastar as balas na questão social e não em meia dúzia de famílias. Só que é essa mesma meia dúzia a única que tem armas reais para acabar até com a opção social.

Se meu voto dependesse só disso, com certeza ela não levaria.

3. Dilma não teve coragem de bancar a reforma política.

Mandou projeto para o Congresso mas parou por aí. Perde a oportunidade de ser uma líder real na questão.

Talvez – talvez, não, com certeza a reforma mais importante que devemos ter no Brasil desde 1500. E vai passar em brancas nuvens mais uma vez por falta de coragem.

Se meu voto dependesse só disso, com certeza ela não levaria.

4. Dilma não teve coragem de fazer a reforma tributária.

Dilma administrou impostos para favorecer o consumo, o que é uma coisa bem diferente de uma reforma tributária, que passa, inclusive, pela coragem de influenciar o PT para que bancasse no Congresso, com força, legislação prevista sobre o tema na Constituição.

O nível dos impostos no Brasil não é o mais alto do mundo, como insiste em pregar a mídia oligárquica e a direita por ela capitaneada, mas é um dos – senão o maior – elemento contra uma real distribuição da renda.

O sistema tributário brasileiro é tão caótico e injusto, que a maior fuga de dinheiro no Brasil se dá pela sonegação e não pela corrupção. E a questão não é de termos mais fiscalização, mas de termos mais mecanismos que inviabilizem a sonegação, a evasão e outras formas de perder o dinheiro que deveria ser público.

E temos ainda o chamado “pacto federativo” que, sabemos, afunda estados e municípios em dívidas com a união.

É preciso ter coragem para fazer isso.

Se meu voto dependesse só disso, com certeza ela não levaria.

5. Dilma não mudou o perfil de gastos em propaganda do governo.

Isso é grave. Além de alimentar a mídia oligárquica (item 2), é a forma mais abominável de ser contra a democracia. É o fortalecimento da imprensa local que proporciona a multiplicidade de interpretações da realidade vivida pelos cidadãos. Fortalecer e manter a mídia oligárquica nacional em detrimento dos pequenos veículos locais é minar a democracia.

Requer uma coragem que a Dilma não teve.

Se meu voto dependesse só disso, com certeza ela não levaria.

6. Questões ambientais.

É possível, sim, desenvolvimento associado a um modelo de preservação ambiental. Ninguém quer viver nas cavernas, como pretendem alguns outros por aí, mas Dilma ignorou quase que por completo as questões de um projeto consistente na área ambiental.

Ações pontuais não significam ter um projeto ambiental, uma ideologia para a área. O Brasil não foi pensado de forma sistêmica. Parece que só temos dois caminhos: desenvolver ou voltar para as cavernas.

Não houve coragem para enfrentar o “dilema”.

Se meu voto dependesse só disso, com certeza ela não levaria.

7. Educação.

Educação virou sinônimo de orçamento. O grande debate nacional é quanto aplicar na educação. Pré-sal, depois do sal, salário, só falamos de dinheiro quando o assunto é educação. Investimento em universidade, em financiamentos, em programas de acesso.

E que tal uma reforma do ensino que contemple uma mudança no conceito da própria “educação”? Que inverta, realmente, a pirâmide social, passando a educação para o topo da consideração social?

Os educadores, hoje, são classe à míngua não por causa dos péssimos salários que recebem, mas por serem considerados a classe menos importante da nação. Valorizamos outras classes, ditas “mais nobres” em detrimento de quem educa nossos filhos.

A mudança passa até por esse conceito: propaga-se, hoje, que escola ensina e quem educa é a família, os pais. Nada mais errado. Escola, professores, todo mundo tira o seu da reta. Bacana, né?

E o governo o que faz para mudar esse paradigma? Nada! Faltou ao governo apresentar uma revolução na educação.

Se meu voto dependesse só disso, com certeza ela não levaria.

8. Saúde.

Saúde é problema de estados e municípios, subsidiariamente da união, no que diz respeito ao atendimento.

Mas cabe a união a concepção do sistema. E o sistema apresenta falhas que precisam ser corrigidas e não apenas de soluções pontuais como ter mais médicos na ponta, onde antes não existia.

O Mais Médicos é ótimo, mas representa a filosofia do resolver a consequência e não a causa.

Falta um projeto que resolva sistemicamente a questão da saúde.

Se meu voto dependesse só disso, com certeza ela não levaria.

9. O câncer da pós modernidade.

Governabilidade. Tudo é feito em nome dessa doença.

Quando era criança aprendi que o importante era ter princípios e deles jamais abrir mão. A governabilidade jogou por terra todos os princípios. É um câncer. Um câncer da política brasileira que está matando a sociedade.

A política deveria ser exemplo de princípios para os cidadãos. Educar é dar princípios. Fazer política é fazer educação por e para princípios de cidadania.

Quando cedemos ao câncer da governabilidade, matamos os princípios, matamos a educação da cidadania.

Dilma venceu um câncer, mas cedeu a outro.

Se meu voto dependesse só disso, com certeza ela não levaria.

10. Dilma é Lula-dependente. Retornamos ao ponto um.

Dilma perdeu a grande oportunidade de ser além-Dilma. Perdeu a grande oportunidade de criar a nova etapa do PT.

Se meu voto dependesse só disso, com certeza ela não levaria.

Apesar de tudo, ainda é quem pode mudar todas essas razões.

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyO ChatoTenho cá minhas razões para não votar na Dilma. Mas como tenho outras milhares para votar, fico tranquilo em apresentar razões pelas quais alguém, pensando séria e honestamente - e não esse papo da mídia oligárquica-, poderia querer não votar nela. 1. Minha esposa gosta da Dilma e diz que...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!