guilda

(a propósito de um comentário que fiz em um comentário do Francisco Marshall)

Quando eu crio as regras que usarei para analisar o mundo e, se necessário, serem utilizadas para ser julgado pelo mundo, criei um círculo.

Eu sou melhor porque eu disse que sou melhor. Eu mereço porque eu criei as regras para dizer que mereço e são as mesmas regras que os demais devem repetir: ele merece.

Meritocracia. Círculo. Guilda. Classe.

A justificativa circular de privilégios é antiga na humanidade. O homo sapiens se diferenciou dos demais animais quando conseguiu construir o círculo – inicialmente físico e depois abstrato – em torno do “macho alfa”. O mais forte, que teria o privilégio de cruzar com qualquer fêmea que desejasse.

Nasce, ao mesmo tempo, a subserviência. Machos e fêmeas “menos merecedores” aprendem a dizer “ele merece”, em troca de alguns privilégios ou, até, da sobrevivência, mesmo que miserável.

Deus foi criado em uma das voltas desse círculo, quando alguns alfas perceberam que poderiam potencializar a subserviência.

Básico, né?

Mas ainda hoje certas guildas usam círculos para justificar que “merecem”: só pode julgar quem tenha um “profundo” conhecimento do Direito; para ter um profundo conhecimento do Direito eu devo estudar muito e provar que estudei; para provar que estudei, crio uma forma de seleção, o concurso.

E digo, depois, que quem passou no concurso é merecedor.

Tudo dentro do círculo. Apenas dou voltas e mais voltas. Sou merecedor porque eu disse que sou merecedor. E crio leis para garantir meu círculo.

A lei, a suprema justificativa. A lei elide a moral. A lei vem de tempos imemoriais. Eu não a criei, apenas a sigo. E faço com que os outros sigam. Afinal, todos devem estar dentro do círculo.

A lei é a circunferência que delimita os pontos onde todos devem andar. Todos sabendo que sou o centro.

Dois argumentos são extremamente dolorosos: “eles merecem” ou “todos merecem”.

São argumentos de manutenção ou de destruição do círculo e seu centro. Se eles merecem, temos um centro e seu círculo; se todos merecem, acabamos com o círculo e o centro.

Esse tipo de pensamento, dominante e criado pela classe, pela guilda, parece raramente ser questionado.

Afinal, eu criei o sistema que diz que eu não posso ser questionado; o sistema onde eu simplesmente mereço.

A meritocracia é isso: um círculo, uma guilda.

E aí de quem pensar fora do círculo…

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyO Chato(a propósito de um comentário que fiz em um comentário do Francisco Marshall) Quando eu crio as regras que usarei para analisar o mundo e, se necessário, serem utilizadas para ser julgado pelo mundo, criei um círculo. Eu sou melhor porque eu disse que sou melhor. Eu mereço porque eu criei...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!