Como cozinheiro, sou um excelente fotógrafo. Assim que, até que resolva fazer um curso de fotografia culinária, direi, como nas propagandas, que as fotos são “meramente ilustrativas”.

Essa vida de dono de casa (ok, dono de parte da casa, a cozinha) mata qualquer um.

Recordo de mamãe comentando, quando ainda tinha os quatro filhos morando com ela e diante das constantes reclamações do tipo “de novo?”, o quão difícil é ter que viver pensando no que fazer para o almoço todo santo dia.

Confesso que graças a isso tenho sido feliz na cozinha. Nunca me incomodou o fato de mamãe repetir pratos. Pelo contrário, ansiava pela repetição de muitos deles. O rocambole de batata (que até hoje não consegui acertar o ponto), as panquecas, a carne de panela, o feijão, minto, o feijão já consegui fazer igual. Sem falar na lasanha, na língua com ervilhas, na maravilhosamente simples tortilla (que também tento e tento e … tento!).

Mas o “de novo” meio que me traumatizou. Passo os dias olhando meus livros, revistas, recortes de jornais e páginas da internet em busca do novo. Jamais repetir se tornou meu lema de aprendiz de cozinheiro.

Pois não é que hoje sofro do fenômeno do “de novo”? Desde março, uma vez por semana, cozinho para meus colegas. A cada semana faço um prato de um país diferente. Uma viagem gastronômica nos intervalos do almoço. Já fiz pratos da Tailândia, da China, da Índia, da Bulgária, da República Tcheca, da Hungria, da Espanha, do País Basco, da Itália, da França, de Portugal, dos Estados Unidos, do México, da Argentina, sei lá, perdi as contas. E, pasmem, do Brasil. Faço em casa e faço para os colegas.

E qual não foi a minha surpresa ao ouvir, tanto em casa, quanto no trabalho, a expressão “Quando teremos ‘de novo’ aquele prato?”

E descobri a ciência culinária da mamãe (ao menos para mim): bom não é apenas o que gostamos, mas o que podemos comer sempre que temos vontade. Bom mesmo é o “de novo!”

Não sei se me fiz entender, mas ainda não estou completamente formado no “de novo!”. Assim que, todo domingo me sinto compelido a fazer algo novo. E foi o que fiz hoje. E, não bastasse fazer algo novo, ainda invento em cima das receitas que vejo. É o caso desse suflê. Originalmente é uma “torta suflê de presunto”. Confesso que, meio sem graça, mas nas minhas mãos, heheh, se transformou! O recheio original só leva presunto. O resto, inclusive o sal e a pimenta ficam por minha neura pelo “novo”.

Ingredientes

Massa:

– 2 xícaras de leite

– 2 xícaras de farinha de trigo

– 1 xícara de óleo (usei azeite de oliva)

– 1/2 xícara de queijo parmesão ralado

– 2 ovos

– 1 caixa de creme de leite

– 1 colher de chá de sal

O sal. O sal é um maldito problema para mim. Cozinhar fumando e tomando uma cervejinha é algo que não combina com o sal. Aliás, com tempero algum. Como não abro mão de um cigarrinho e de uma cervejinha (até pareço um gaúcho falando…), não me arrisco muito: na cozinha, menos sempre pode ser mais.

– 1 colher de sopa de fermento em pó.

Recheio:

– meio peito de frango desfiado

dois pontos: não seja preguiçoso. Nada de comprar esses pacotes de frango desfiado prontos ou um peito já assado. Em dez minutos um peito fica cozido. Em cinco fica morninho e em dez já estará desfiado com suas próprias mãos e com seu bolso agradecendo.

– 200 g de presunto fatiado e cortado em pedacinhos

– 1 caixa de creme de leite

– a pote de requeijão cremoso

1 tomate sem sementes bem picadinho

1/4 de pimentão verde bem picadinho

– sal e pimenta do reino ao gosto (cuidado, fumantes!!!!)

Olha aí como fica o recheio:

recheio

 

Preparo

As receitas de revistas são delicadas e dizem “coloque os ingredientes da massa no liquidificador…”. O que elas querem dizer é: joga tudo no liquidificador e fica batendo por cinco minutos. O que elas não te dizem eu digo: a meleca toda fica grudada nas paredes do copo do liquidificador. Dica do Afonso: dá uma paradinha de vez em quando e, com uma espátula, vai raspando o copo, senão embolota tudo e o que era pra ser um suflê acaba virando uma paçoca embolotada.

Despeja metade da massa em uma forma untada (besteira, sempre vai dar uma queimadinha no fundo e grudar) e coloca o recheio por cima. Olha:

cobrindo a massa01

cobrindo a massa02

 

 

 

 

 

 

 

 

Depois, misture o creme de leite com o requeijão e coloque por cima do recheio:

Foto0144

requeijão por cima

 

 

 

 

 

 

 

 

Por quase no fim, despeje e espalhe o restante da massa por cima do requeijão:

massa final

 

Finalmente, por fim, coloque queijo ralado por cima de tudo:

com queijo por cima

Ao forno!

Resultado? Pergunte para quem comeu e não deixou pedaço para contar a história…

Tire do forno e sirva a sua cabeça. Depois dessa, ela estará a prêmio, caso não faças algo no mesmo nível no próximo domingo…

Suflê pronto

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyAventuras na CozinhaComo cozinheiro, sou um excelente fotógrafo. Assim que, até que resolva fazer um curso de fotografia culinária, direi, como nas propagandas, que as fotos são 'meramente ilustrativas'. Essa vida de dono de casa (ok, dono de parte da casa, a cozinha) mata qualquer um. Recordo de mamãe comentando, quando ainda tinha...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!