Pois é,

Para uma auto comemoração do retorno, vai uma receitinha que publiquei no Chato em janeiro de 2006.

A salada que vamos apresentar hoje pode ser feita de três maneiras:

(1) à moda econatureba;
(2) à moda preguiçoso;
(3) à moda “meu pai”.

Os ingredientes são os mesmos, o que muda é o tempo de preparo.

A maneira econatureba é a mais demorada e depende de algumas situações particulares. Aviso: nem todos poderão fazê-la dessa maneira, como veremos. Fazê-la como fazem os preguiçosos, como o nome já dá a antever, é a maneira mais fácil e rápida. Não que o sabor seja diferente, mas perde, em muito, aquele prazer de “meter a mão na massa”, que as outras maneiras têm. A forma como “meu pai” fazia, além de ser a mais gostosa, é diferente. Enfim, vamos ao que interessa. Antes, porém, outro pequeno aviso: as quantidades indicadas, se levadas ao pé da letra, resultarão em uma salada para:

(1) dez pessoas acostumadas a restaurantes caros, daqueles que servem 50 gramas de carne e uma folha de alface por R$150,00, dizendo que vêm com a assinatura de um grande “chef”;
(2) oito pessoas acostumadas a serem educadas e que se dizem satisfeitas, embora quisessem comer mais;
(3) seis pessoas normais;
(4) quatro pessoas sem muita cerimônia;
(5) duas pessoas, como eu e a Kaya por exemplo, que comem, cada uma, por duas;
(6) uma pessoa, desde que classificada na categoria dos “obesos em geral”.

1. Preparo à moda econatureba.

1.1 Ingredientes

Atenção: não vale “roubar” os ingredientes dos vizinhos. Lembre-se, a filosofia do econatureba é o “fazer com as próprias mãos” ou, como diriam os mais religiosos, “comer o pão feito com o suor do próprio rosto”. E, nesse caso, você vai suar muito.
Primeiro – e mais importante de tudo – plante. Plantar resolve todos os problemas, além de economizar na consulta ao psicólogo, que será desnecessária.
Um terceiro aviso importante: não use sementes transgênicas. Além de não comprovados os malefícios que podem causar, você estará apenas contribuindo para aumentar a riqueza dos donos e investidores da Monsanto. Enquanto você permanece um econatureba pobre.
Plante uma oliveira, uma macieira, uma batateira, um pé de alface e uma ceboleira. Desnecessário dizer que a oliveira deverá ser plantada em primeiro lugar. Depois a macieira. Esse é o segredo da receita, que só Chato revela pra você! Em nenhum outro site gastronômico vão te contar isso.
Sente e espere. Esperar o quê? Que uma conjunção estelar faça com que todas elas dêem resultados ao mesmo tempo. Caso contrário você terá que comprar alguns dos ingredientes no supermercado. Aí, você só poderá fazer a receita à moda preguiçoso.
Se você não tem um galinheiro em casa está em maus lençóis, pois irá precisar de ovos para a maionese e para a decoração. Em todos os casos, ainda há tempo de resolver esse pequeno probleminha. Corte uma árvore e dela faça diversas tábuas para construir um galinheiro. Reserve um pouco da madeira para o fogo. Arranje uma galinha (não vale “roubar” dos vizinhos) e faça-a colocar vários ovos, desde que na época da floração (obs.: não vale dar ração escondido para a galinha).
Calcule o tempo de floração. Quando chegar nessa época, chame seu melhor amigo e parceiro e saiam para uma pescaria no mar. Escolham, para começar, um local em que possam coletar sal. Bastante sal. E marinho. Sal de saquinho e iodatado é coisa de preguiçoso. E essa veremos depois.
Vocês irão pescar atum. Não confundam, por favor, atum com sardinha. Sardinha vem em latas e você acha no corredor próximo ao local dos hortifrutigranjeiros. Por quê? Porque pesquisas recentes apontaram que pessoas que compram sardinhas em lata também compram mamão, giló, pimentão amarelo e lava-louças sabor côco.
A pesca de atum é feita em alto mar e é perigosa. Lembre-se de levar o EPI. Contate o IBAMA e obtenha, antes, a LI e a LO. Um quarto aviso importante: o IBAMA exige carteira de identidade e o comprovante de votação no plebiscito sobre o desarmamento. Ouvi dizer – e é só fococa – que se você votou no não, eles complicam (dito de outra forma, aqueles pilas reservados para a faculdade da sua filha vão dançar). Seja um econatureba responsável. Pense nas gerações futuras. Pegue apenas um atum. Você só vai precisar de umas 240 gramas dele (não esqueça de ralar. O atum, sua besta!). O que fazer com o resto?
Devolva para o seu amigo e parceiro. Lembre-se que você é um econatureba e, portanto, não tem carro, não tem barco, não tem EPI e, se não fosse por seu amigo e parceiro capitalista, não teria a salada também. Nada mais justo, então, que ele fique com os lucros da pescaria ou, como se diz modernamente, com os lucros de ter nascido um empreendedor. Ou, mais pós-modernamente ainda, um facilitador, que são aquelas pessoas que têm tudo o que tu não tens e que te facilitam realizar aquilo tudo que eles nem imaginam fazer com todo o dinheiro que tem. Mas cobram. E caro.
Colha as batatas, a cebola e maçã. Não esqueça de pegar os ovos no galinheiro. Colha, também, 352 azeitonas, esprema e delas faça 10 colheres de azeite de oliva.
– Mas, Chato?
– Sim?
– E qual a diferença entre virgem e extra-virgem?
– Essa é fácil. A virgem deixa bolinar mas não deixa meter.
– E a extra-virgem?
– Essa nem bolinar deixa!
Parece que já temos todos os ingredientes econaturebas:
– 1500 g de batatas, colhidas e descascadas com as próprias mãos;
– 1 cebola, colhida e descascada com as próprias mãos;
– 1 maçã, tirada ao pé com a própria mão (basta uma para pegar uma maça);
– 240 g de atum, ralado (é o atum que vai ser ralado, não as gramas) com as próprias mãos;
– 3 ovos, retirados do galinheiro com as próprias mãos;
– 10 colheres de sopa de azeite de oliva, espremidos com as próprias mãos;
– sal a gosto (o que sobrou na palma da mão, após passá-la no mar);
– suor do próprio rosto (sem ele os mais religiosos não podem fazer a receita).
Atenção: na foto acima pode-se vislumbrar a coxinha da galinha que foi assada. Não recomendamos aos econaturebas que matem sua galinha. Poderão ficar sem seus ovos (os da galinha, sua besta!).

A seguir: 2. Preparo à moda preguiçoso

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyAventuras na CozinhaCrônicasCulináriaSaladasPois é, Para uma auto comemoração do retorno, vai uma receitinha que publiquei no Chato em janeiro de 2006. A salada que vamos apresentar hoje pode ser feita de três maneiras: (1) à moda econatureba; (2) à moda preguiçoso; (3) à moda “meu pai”. Os ingredientes são os mesmos, o que muda é o tempo...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!